O presidente ilegítimo Michel Temer afirmou em reunião com o
setor do agronegócio, durante Global Agribusiness Fórum 2016, em São Paulo, que
“em determinado momento” vai tomar medidas impopulares. Tal postura será tomada
logo após a finalização do processo de impeachment no Senado Federal
O adjetivo “popular”, segundo o dicionário, quer dizer “que
pertence ao povo; que concerne ao povo”, mas também quer dizer “plebeu; homem
do povo”.
O substantivo “povo” tanto pode ser usado para designar o “conjunto
de homens que vivem em sociedade”, como o “conjunto de pessoas que pertencem à
classe mais pobre, à classe operária ou à classe dos não-proprietários”, ou
seja, a plebe.
Entender o sentido das palavras é fundamental para refletir
sobre o aviuso feito pelo senhor Temer. Em duas reuniões com segmentos
empresariais que apoiaram o processo de golpe institucional, o interino avisou
que medidas amargas precisarão ser tomadas em breve e que precisará de todo
apoio possível para enfrentar as prováveis reações contrárias.
O termo “medidas impopulares” foi usado de forma bastante
apropriada. O conjunto de medidas que já tramitam no Congresso e que já foram
anunciadas pela equipe econômica (dos sonhos do setor financeiro nacional e
internacional) atingem diretamente os interesses e a vida de parte do povo
brasileiro. Representam um ataque aos direitos sociais, os quais são essenciais
para os que vivem do trabalho e para os que ainda estão na fila querendo viver
do seu trabalho (os que estão na extrema pobreza, na pobreza, no desemprego, no
mercado informal precário, nas áreas de incidência de trabalho análogo ao
trabalho escravo). A lista, mesmo antes de se completar o ciclo do impeachment,
já é bastante grande:
1.
Proposta de Teto para os gastos públicos, o qual
revoga as vinculações constitucionais para saúde e educação, comprime o gasto
com as áreas sociais e viabiliza um redirecionamento para o capital de bilhões
de reais por ano.
2.
A Proposta de renegociação da dívida dos
estados, que garante migração de recursos destes entes federados para os
credores da dívida pública em troca de arrocho salarial, fim de concursos
públicos, privatizações do que ainda resta de empresas públicas estaduais,
dentre outras maldades.
3.
Proposta de reforma da previdência, aumentando a
idade mínima de aposentadoria, acabando com a diferença de idade entre homens e
mulheres.
4.
Proposta de aceleração da terceirização dos
serviços, precarizando as relações de trabalho e garantindo maior
competitividade (eufemismo para elevação da taxa de lucros do empresariado).
5.
Proposta de flexibilização da legislação
trabalhista, enfraquecendo os sindicatos nas negociações e favorecendo a diminuição
do custo Brasil (eufemismo que significa reduzir o custo do empresariado com
salários de trabalhadores).
Ontem foi a eleição do novo presidente da Câmara dos
Deputados. Ouvi dizer que parte da antiga base de Dilma ensaiou votar em
Rodrigo Maia (DEM) no primeiro turno e acabou apoiando o mesmo no segundo turno
para derrotar o candidato assumidamente ligado ao Eduardo Cunha. Assisti a
primeira entrevista do novo (difícil usar esta expressão para o herdeiro
político do resquício do partido da Ditadura Militar e do clã Maia, que está envolvido
em todos os escândalos de corrupção da Nova República para cá) e ele listou as
três prioridades para votação na Câmara: PEC do Teto de Gastos, Renegociação da
dívida dos estados e reforma da previdência. Tudo isso em consonância com os “interesses
do governo e do país”.
Enquanto todas as atenções continuam voltadas para as crises
políticas (fechamento do processo de impeachment no Senado, morosidade do
Judiciário com as denúncias contra a cúpula do PMDB e a dificuldade para cassar
e prender Eduardo Cunha), os “interesses do governo e do país”, leia-se os
interesses dos credores da dívida e do grande empresariado, vão sendo aprovados
com grande facilidade, com os votos do núcleo que lançou Rodrigo Maia e com o
chamado Centrão que votou no Rosso.
Certamente no dia de ontem a esquerda perdeu uma
oportunidade de se apresentar como uma alternativa de oposição ao avanço
conservador, para além do espantalho do Eduardo Cunha.