sexta-feira, 10 de junho de 2016

O golpe se aprofunda

Há um estranhamento profundo na sociedade brasileira. Todos os dias aparecem evidências sobre os motivos que ensejaram a aprovação da abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma, quase todas mostrando que ocorreu um conluio de interesses poderosos, inclusive para proteger caciques da política nacional de possíveis punições pela Operação Lava Jato.
Todos os dias presenciamos mobilizações de segmentos sociais, dentre eles os nossos cientistas e artistas, mas também nossos pequenos produtores e sem-teto, todos eles protestando contra o desmonte de ministérios e programas sociais importantes.
Porém, imune ao clima de constrangimento que presenciamos em milhões de brasileiros que acreditavam que aprovar o impeachment era combater a corrupção, o Congresso Nacional está, de forma acelerada, aprovando medidas impopulares, remédios amargos para superar a crise econômica jogando nas costas do povo pobre e dos assalariados o ônus mais pesado.
No primeiro ato de governo, Temer anunciou que recursos que o BNDES devia para o executivo seriam cobrados e também utilizados para pagar a dívida pública.
Nesta semana, em rápidas e folgadas votações, o governo conseguiu prorrogar a vigência da Desvinculação das Receitas da União (DRU), dispositivo criado na época do FHC, que Lula manteve, que Dilma manteve e que agora foi ampliado de 20% para 30%. É um instrumento de drenagem de recursos da área social para o pagamento de juros e amortização da dívida pública para os bancos.
Porém, com o forte apoio parlamentar, o que foi aprovado na Câmara foi mais longe do que os governos anteriores fizeram. A proposta amplia a desvinculação para as esferas estaduais e municipais. Mesmo que tenha retirado dos seus efeitos formais a educação e a saúde, tal medida visa comprimir qualquer gasto acima do mínimo constitucional que estava sendo feito e impedirá qualquer ampliação de serviços públicos.
O ministro da Fazenda Henrique Meireles anunciou que na próxima terça feira estará pronta a Proposta de Emenda Constitucional que estabelece o teto para os gastos públicos que expliquei no post passado aqui neste espaço virtual.
O presidente ilegítimo reunirá com centrais sindicais que apoiaram o golpe para convencê-las de que é necessário fazer uma terceira reforma da previdência social.
Enquanto o povo brasileiro espera que Eduardo Cunha seja cassado (está difícil, assim como fez com Dilma, ele chantageia o Temer que precisa das centenas de votos que ele controla na Câmara) ou preso (parece que o Juiz Moro de um momento para outro ficou mais comedido e sumiu dos holofotes da mídia), que os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney sejam punidos por obstruir a Operação Lava Jato e abocanhar grande parte dos recursos desviados dos cofres públicos, estes senhores estão implementando o programa do golpe, ou seja, criando as condições para revogar os avanços sociais da Constituição de 1988.

Urge ocupar as ruas contra os ataques aos nossos direitos. Hoje, convocados pelas duas frentes do movimento social (Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo) milhares se manifestarão em todo o país. É um bom começo.

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