sexta-feira, 27 de março de 2015

PNE em risco - segunda parte

Uma das consequências esperadas da pressão conservadora sobre o governo Dilma é, infelizmente, o anúncio de mais medidas de austeridade, eufemismo utilizado no jargão governamental e jornalístico para dourar a pílula dos cortes orçamentários. Além disso, como já foi sinalizado, maiores fatias de espaços públicos serão oferecidas a iniciativa privada, tudo como parte do esforço para retomar a confiança dos verdadeiros eleitores da democracia brasileira: os bancos, os credores da dívida e grandes empresários, ou seja, a figura mitológica do “mercado”.
E o que isso tem a ver com o cumprimento da Lei nº 13005 de 2014, ou seja, como o aprofundamento das medidas de austeridade afeta a efetivação do Plano Nacional de Educação?
Bem, em primeiro lugar, em que pese seus matizes privatistas, o plano aprovado possui clara indicação de alargamento do direito ao acesso à educação. Mesmo que sejam executados todos os estratagemas de diminuição de custo da expansão prevista, em qualquer cenário é necessário aumentar o número de escolas públicas, sejam unidades de educação infantil, sejam universidades. Essa demanda caminha na direção contrária a lógica do ajuste fiscal. O governo federal admite pelo menos dois anos de recessão, o Banco Central nesta semana previu uma retração do PIB em 2015 e a paralisia econômica puxa pra baixo a arrecadação dos impostos, diminuindo o fundo público e reduzindo a margem de manobra dos governos para cumprir suas obrigações.
No que diz respeito ao governo federal, que não é o único ente federado a contingenciar (outra palavra criada para mascarar a palavra “corte”) seu orçamento, deve anunciar novos cortes na semana que segue. Não sabemos quanto será o corte, mas a presidenta afirmou que serão “significativos” e não lineares, ou seja, vão ser maiores do que os cortes preventivos de janeiro, mas podem não afetar todas as áreas, sinalizando para a proteção dos programas federais existentes. Aí é que reside parte importante do problema, posto que as metas e estratégias do PNE não se enquadram no quesito “programas existentes”, ou pelo menos, não na quantidade atual de abrangência destes programas.
As notícias sobre os efeitos dos cortes orçamentários preventivos estão bastante disseminadas. Cada semana temos uma universidade federal tornando pública suas “escolhas cruéis”, ou seja, tornando públicos os setores internos que serão paralisados ou precarizados. Como acreditar que nos próximos dois anos serão tomadas medidas positivas de expansão da rede federal? As Metas 11 e 12, que tratam da expansão do ensino profissional e superior estipulam um percentual de crescimento público, grande parte dele de responsabilidade federal. Não é razoável acreditar que nestes dois primeiros anos de vigência do PNE serão tomadas medidas positivas para cumprir as referidas metas.
A crise não afeta somente o crescimento da oferta pública, visto que o governo tem encontrado dificuldade para garantir a expansão de suas políticas direcionadas para ofertas gratuitas via subsídios ao setor privado, vide problemas de pagamento de bolsas do Pronatec e de renovação dos contratos no FIES. Porém, convenhamos que este segmento da população possui meios mais eficazes para pressionar o governo para não sofrer cortes do que as nossas universidades públicas. Basta uma pressão via os jornais (alguns dependentes do patrocínio das empresas prejudicadas com os atrasos) para que o governo se apresse a arranjar os recursos para atender aos interessados.
Muito se especula sobre quem será o novo ministro (ou ministra) da Educação. Reconheço que o nome é importante, posto que define o perfil da nova equipe e sinaliza continuidade, ajustes ou rupturas (estas hoje tão distantes) na condução dos programas federais da educação. Mas talvez fosse importante compreender em que cenário macroeconômico o novo titular assumirá o ministério, condicionante tão violento e restritivo que pode tornar ineficaz os efeitos positivos esperados até de um nome mais aceito pelos educadores. Um nome ruim agrava uma situação existente de contenção de gastos e inviabilização da execução do PNE. Um nome bom não é suficiente para destravar a lógica, mesmo que anuncie relação conflituosa entre área econômica e gestão educacional.
Nas próximas semanas (ou próximos dias) teremos fortes emoções, por que será anunciado o substituto (ou substituta) de Cid Gomes e será publicado o decreto de contingenciamento orçamentário. E saberemos, com mais certeza, se os efeitos prováveis na execução do PNE se confirmarão ou não.



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