terça-feira, 25 de junho de 2013

Os brioches da Dilma


A presidenta Dilma, rodeada de governadores, anunciou a resposta do poder público as demandas expressas pelo povo nas ruas do país. Foi proposto cinco pactos: responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte e educação.

Ao ler atentamente o conteúdo do que foi apresentado fico com a firma certeza de que o Palácio do Planalto ou não conseguiu entender a mensagem das ruas ou considera que o movimento vai perder substância e o tamanho das concessões não precisam mexer nos pilares que sustentam o modo de fazer política em nosso país.

Desde o governo FHC até os dias de hoje o que tem prevalecido é o denominado pacto pela responsabilidade fiscal. Em nome deste pacto todos os anos é drenado quase metade do orçamento federal para pagamento dos juros e encargos da dívida pública. Em nome deste pacto governos estaduais e municipais mantém o salário dos professores abaixo do piso nacional estabelecido em lei. E se tornou recorrente a precarização e terceirização dos serviços públicos de saúde e educação. Reafirmar esta política não é uma resposta às vozes das ruas, mas sim um aceno às inquietas vozes dos credores, do mercado financeiro e das potências econômicas, todos eles muito preocupados com a explosão social ocorrida nos últimos dias.

Um dos elementos mais visíveis nas manifestações é um cansaço com a política como ela é. Este elemento aparece na rejeição aos partidos (especialmente aqueles que representam o poder instalado no país, ou seja, os partidos que representam a ordem) e em uma grande desconfiança com a seriedade das instituições. A aliança que sustenta o governo incorporou na estrutura de poder notórios corruptos e manteve a política de balcão de negócios na relação entre o parlamento e o executivo. Remeter para uma constituinte convocada nas mesmas regras atuais é não mexer em nada até as eleições, empurrar com a barriga a crise e provavelmente garantir uma maioria baseada no poder econômico os mesmos que envergonham seus eleitores nos dias de hoje.

Em planejamento estratégico, diante de uma grande dificuldade, os manuais ensinam a realizar uma operação K, que não resolve o problema, mas desvia a atenção e força e promove outra discussão. A proposta de constituinte exclusiva é isso, nada mais do que isso. não é uma guinada chavista ou coisa do tipo, nem mexe no arco político montado em torno do governo.

Para não me alongar, comento apenas o quinto pacto, que trata da educação. Qual a novidade concreta apresentada? Nenhuma, apenas a repetição do apelo para que o Congresso aprove a proposta tímida sobre os royalties, mas que seguidas vezes é vendida como a salvação do financiamento da educação. Nenhuma palavra sobre o Plano Nacional de Educação ou sobre a necessidade de maiores aportes concretos para melhorar a qualidade e o acesso à educação. Nenhuma autocrítica pelo fato do MEC ter patrocinado dias antes do levante popular a redução dos recursos previstos no Projeto de PNE aprovado na Câmara.

Ao ouvir o pronunciamento da presidenta Dilma não tenho como evitar a lembrança da postura de Maria Antonieta. É uma característica recorrente em autoridades quer acham que estão no caminho certo e quando o povo as questiona, só podem concluir que o povo é que deve estar errado (ou induzido ao erro por forças subterrâneas).

Certamente estes cinco brioches oferecidos ao povo que clama por pão não conseguirão aquietar a insatisfação popular.

 

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