terça-feira, 10 de julho de 2012

Enquanto isso...

Na mesma semana em que a sociedade civil comemorava a aprovação da redação da Meta 20, que estabelece progressivo crescimento do investimento público direto até alcançar 10% do PIB ao final da próxima década, o plenário do Senado Federal, sem grande alarde, aprovava um novo duro golpe na educação pública brasileira.


Tramitava no Congresso Nacional a Medida Provisória n° 559 de 2012, que originalmente autorizava a Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETROBRAS a adquirir o controle acionário da CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. Caso esta MP mantivesse no seu escopo apenas o teor do seu texto original, certamente não mereceria comentários neste blog.

Acontece que, mesmo contrariando a Constituição, tem virado rotina a inclusão de conteúdos distintos dos originais durante a tramitação parlamentar. É uma forma de apressar a tramitação de matérias polêmicas, de aprovar verdadeiros “submarinos legais”.

Ao chegar ao Senado a referida MP trouxe uma verdadeira frota. Foi instituído o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior – PROIES. E o que vem a ser este programa?

1. O objetivo deste programa é “assegurar condições para a continuidade das atividades de entidades mantenedoras de instituições integrantes do sistema de ensino federal e do sistema de ensino estadual”, ou seja, é um programa de ajuda para salvar de dificuldades financeiras as mantenedoras de faculdades particulares.

2. Basicamente é um plano de recuperação tributária e da concessão de moratória de dívidas tributárias federais destas instituições particulares.

3. “A moratória abrangerá todas as dívidas tributárias federais da mantenedora da IES, no âmbito da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), na condição de contribuinte ou responsável, vencida até 31 de maio de 2012”.

4. “Os débitos discriminados no requerimento de moratória serão consolidados na data do requerimento e deverão ser pagos em até 180 (cento e oitenta) prestações mensais e sucessivas, a partir do 13º mês subsequente à concessão da moratória”.

A análise dos benefícios que o Poder Público oferece ao setor privado é tema de pesquisa de um pequeno grupo de estudiosos em nossas universidades. A intenção desta s postagem é convidar estes pesquisadores a estudar esta nova medida.

A aprovação deste “submarino” e a reação governamental e da mídia contra a aprovação de 10% de investimento direto para a educação pública estão intimamente ligados.

1. O governo tem aprovado leis que reforçam sua estratégia de crescimento da oferta de matrículas via compartilhamento com o setor privado. Foi assim com a aprovação da Lei do Pronatec e agora com a moratória para o setor privado em dificuldades financeiras;

2. Estes projetos contrariam a lógica que se discute no PNE e consolidam uma visão de que a expansão das matrículas em duas áreas críticas (ensino profissionalizante e ensino superior) não passará, pelo menos se depender da vontade política do governo, por um forte crescimento da oferta pública.

Por isso, ao mesmo tempo em que comemoramos e lutamos para manter o teor da meta 20 no texto do PNE, devemos travar uma grande batalha para inscrever no texto legal determinação clara de responsabilidade dos entes federados, especialmente da União, no crescimento das matrículas no próximo período.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Carta Aberta

CARTA ABERTA DE RECONHECIMENTO AOS PARLAMENTARES


Patamar de 10% do PIB para a educação pública: necessário e possível



Excelentíssimos(as) Deputados e Deputadas da Comissão Especial do novo PNE

(Projeto de Lei 8035/ 2010)

A/C do Presidente Deputado Lelo Coimbra (PMDB/ ES)



Excelentíssimos(as) Deputados e Deputadas da Comissão de Educação e

Cultura da Câmara dos Deputados

A/C do Presidente Deputado Newton Lima (PT/ SP)



Nem deu tempo de o movimento educacional comemorar a aprovação da meta

de investimento equivalente a 10% do PIB para a educação pública, a

ser cumprida em um período de dez anos, no âmbito do novo PNE (Plano

Nacional de Educação

Após noticiarem, na quarta-feira passada (27 de junho), a correta e

autônoma deliberação parlamentar ocorrida na Comissão Especial que

analisa a matéria, alguns dos principais veículos de comunicação do

país passaram a criticar, em editoriais e artigos, o que chamam de

“aventura fiscal” ou “demagogia na educação”.



Parte significativa da imprensa brasileira peca pela descrença no

país. Nos anos 1980 o programa brasileiro de prevenção e tratamento à

AIDS era considerado um equívoco. No começo dos anos 1990 parte da

mídia afirmava ser impossível controlar a inflação. No início dos anos

2000 dizia ser arriscado um metalúrgico assumir a Presidência da

República. Um pouco adiante, defendeu que programas de transferência

de renda, como o Bolsa Família, não trariam bons resultados sociais,

sendo considerados desnecessários ou perdulários. Em meados dos anos

2000, a imprescindível inclusão das creches no Fundeb (Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos

Profissionais da Educação) foi denominada de despropositada. Mais

recentemente, defendia que era irresponsabilidade reduzir os juros, em

que pese o fato de o Brasil ainda contar com taxas muito altas. Em

todas essas situações, os grandes veículos de comunicação, seus

conselhos editoriais e seus articulistas descrentes erraram, como

comprova um rápido exame da História recente.



Os movimentos e as entidades signatários desta Carta estão convictos:

mais uma vez aqueles que desconfiam das capacidades do Brasil e não

prezam pela justiça social erraram, erram e errarão em seus textos e

em sua análise. É somente com um patamar de investimento equivalente à

importância e à complexidade do direito à educação pública que serão

dadas as condições necessárias para a emergência de um país justo,

sustentável e próspero. Desse modo, parabenizamos a coragem e a

correção dos senhores e das senhoras na aprovação da meta de

investimento em políticas públicas educacionais equivalente a 10% do

PIB.



Diferentemente do que tem sido noticiado, o debate acerca do novo PNE

foi intenso e plural, ao longo dos últimos dezoito meses. Afora os

milhares de eventos ocorridos por todo o país, milhões de brasileiros

e brasileiras que participaram da Conae (Conferência Nacional de

Educação - 2010) aprovaram por unanimidade a aplicação de 10% do PIB

para a educação pública. Além disso, quase uma centena de audiências

públicas ocorreu em todo o território nacional entre 2011 e 2012,

incluindo debates realizados no Congresso Nacional. Todas as

atividades abertas e democráticas. A discussão sobre o financiamento

da educação foi o tema mais corrente e debatido. Longe de se caracterizar apenas por uma disputa de bandeiras políticas, foi uma

discussão baseada em cálculos e estudos produzidos tanto pela

sociedade civil, com destaque para a Nota Técnica da Campanha Nacional

pelo Direito à Educação, quanto por pesquisadores e especialistas, por

órgãos do Governo Federal - como o MEC (Ministério da Educação) e o

Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) -, e por análises

empreendidas pelo relator da matéria, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR).



Reforça todo o conjunto de argumentos um informe recente da OCDE

(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, órgão

vinculado à ONU (Organização das Nações Unidas), publicado neste ano,

mostrando que para garantir uma educação básica de qualidade, um país

deve investir um total de USD 35 mil (trinta e cinco mil dólares) por

aluno na trajetória escolar de 6 a 15 anos de idade. O Brasil não

gasta nem USD 18 mil (dezoito mil dólares) por aluno no mesmo período.

Nem mesmo com 10% do PIB para a educação pública conseguiremos atingir

o patamar recomendado. Contudo, daremos um importante salto,

especialmente porque as metas de valorização docente aprovadas no PNE

mostram que o caminho escolhido como prioridade para os próximos dez

anos é o fortalecimento do magistério.



É por esse e outros dados, exaustivamente expostos e debatidos,

inclusive com boa repercussão nos grandes veículos de imprensa, que

saudamos a aprovação da meta de investimento equivalente a 10% do PIB

em educação pública. Foi de forma autônoma, unânime, suprapartidária e

preocupada com a melhoria da qualidade da educação pública, que a

Comissão Especial do PNE, majoritariamente composta por parlamentares

da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, teve

atitude corajosa e acertada na emblemática votação da terça-feira

passada, dia 26 de junho.



A deliberação se baseou em uma decisão ponderada, diferentemente do

que tem sido afirmado e repercutido na grande imprensa. Diante da

crise econômica internacional, a Comissão Especial do PNE atrasou uma

promessa de campanha da Presidenta Dilma Rousseff, manifestada em seu

programa de governo e em debates televisivos. A então candidata e

agora presidenta assumiu o compromisso de aplicar o equivalente a 7%

do PIB em educação pública até 2014. O texto aprovado pela Comissão Especial do PNE aponta, pelo rito normal de tramitação, que esse

patamar prometido por Dilma deverá ser alcançado apenas em 2017 ou

2018, quando o pior da crise econômica internacional terá passado e a

exploração do Pré-Sal poderá financiar o direito à educação, ciência,

tecnologia e inovação, além das políticas públicas de saúde, conforme

decisões recentes e louváveis da Câmara dos Deputados.



Caros e caras parlamentares, parabéns pela seriedade e ousadia de

corresponder, por meio de uma deliberação acertada, aos votos dos

milhões de eleitores que representam. Pela primeira vez na História, o

debate da prioridade da educação saiu do discurso por meio de uma

medida prática. A aprovação do patamar de 10% do PIB em educação

pública demonstra que o país está se preparando para cumprir com os

ditames constitucionais.



Ao mesmo tempo, os senhores e as senhoras também fizeram jus ao fato

de comporem um colegiado que se reúne no Plenário Florestan Fernandes

e concede um prêmio orgulhosamente nomeado de Darcy Ribeiro. Além

disso, e nunca é ocioso lembrar, a aprovação do PNE se deu nos marcos

dos oitenta anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e seus

votos conseguirão dar concretude às célebres palavras de Paulo Freire:

“se a educação sozinha não melhora a sociedade, tampouco sem ela a

sociedade muda”.



Finalizamos, reforçando nosso reconhecimento e nossa solidariedade,

com a certeza de que os integrantes da Comissão Especial do PL 8035/

2010 e da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados

permanecerão firmes na defesa do direito à educação, tal como fizeram

no dia 26 de junho de 2012. Que tenha sido apenas um primeiro passo.



Assinam entidades e movimentos em defesa do direito à educação,

sindicatos e confederações de trabalhadores da educação, instituições

de gestores da educação municipais e estaduais, fóruns e uniões de

conselheiros da educação, organizações de pais e familiares de alunos,

entidades de pesquisa em educação, associações de mães e pais de

alunos com deficiências, fóruns de educação infantil e de jovens e

adultos, organizações não-governamentais comprometidas e dedicadas às

políticas educacionais e aos direitos humanos, entidades do movimento

estudantil, entre outros.



Assinaturas, por ordem alfabética:



AÇÃO EDUCATIVA – ASSESSORIA, PESQUISA E INFORMAÇÃO

ACTIONAID BRASIL

ALB (ASSOCIAÇÃO DE LEITURA DO BRASIL)

AMP (ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO PARANÁ)

ANPAE-DF (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO – DF)

ANPED (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO)

ANPG (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PÓS-GRADUANDOS)

APRECE (ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS E PREFEITOS DO ESTADO DO CEARÁ)

ASSEEC (ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ)

ASSOPAES (ASSOCIAÇÃO DE PAIS DE ALUNOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO)

AVANTE, EDUCAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO

CAMPE (CENTRO DE APOIO ÀS MÃES DE PORTADORES DE EFICIÊNCIA)

CCLF (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE)

CEDECA-CE (CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO CEARÁ)

CEDES (CENTRO DE ESTUDOS EDUCAÇÃO E SOCIEDADE)

CEE-CE (CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO CEARÁ)

CNTE (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO)

COMISSÃO DE DEFESA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DO CEARÁ

CONSED (CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO)

CONTEE (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO)

ESCOLA DE GENTE – COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FEPRAF (FÓRUM PELA EDUCAÇÃO DA PRAIA DO FUTURO)

FETAMCE (FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DO

ESTADO DO CEARÁ)

FETRACE (FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA AGRICULTURA DO

ESTADO DO CEARÁ)

FINEDUCA (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA EM FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO)

FNCE (FÓRUM NACIONAL DOS CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO)

FOJUPE (FÓRUM DAS JUVENTUDES DE PERNAMBUCO)

FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CEARÁ

FÓRUM DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO CEARÁ

FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

FÓRUM PAULISTA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

GRUPO CLIO (ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DO CEARÁ – GCLCO/TM)

INESC (INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS)

MIEIB (MOVIMENTO INTERFÓRUNS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO BRASIL)

MST (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA)

MST-CE (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST/CEARÁ)

MSU (MOVIMENTO DOS SEM UNIVERSIDADE)

ONG ENCINE

PACTO “UM MUNDO PARA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE DO SEMI-ÁRIDO” – COMITÊ CEARÁ

REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE

RNPI (REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA)

SETORIAL DE EDUCAÇÃO DO PCdoB-CE

SETORIAL DE EDUCAÇÃO DO PSOL-CE

SETORIAL DE EDUCAÇÃO DO PT-CE

SINDICADO DOS SERVIDORES DO IFET/CEARÁ – SINDSIFCE/S.S. SINAFESE

SINDICATO APEOC

SINDICATO DOS DOCENTES DA UECE – S. S. ANDES

SINDICATO DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL DO CEARÁ/MOVA-SE

SINDIUTE (SINDICATO ÚNICO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DO CEARÁ)

UBES (UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS)

UECE (CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ )

UNCME (UNIÃO NACIONAL DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO)

UNCME-CE (UNIÃO NACIONAL DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO – CEARÁ)

UNDIME (UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO)

UNDIME-CE (UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO DO

CEARÁ – UNDIME/CE)

UNE (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES