quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Devagar

Gasto público com ensino chega a 5,3% do PIB


Autor(es): Por Luciano Máximo
De São Paulo

Valor Econômico - 20/12/2012


O investimento direto em educação de prefeituras, governos estaduais e da União atingiu 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, ante marca de 5,1% no ano anterior. Depois de um aumento menor entre 2009 e 2010, o crescimento anual de 0,2 ponto do PIB voltou a atingir a média verificada desde 2005 - quando os gastos públicos com ensino eram de 3,9% do PIB -, mas o país precisa pisar fundo no acelerador se quiser cumprir a principal meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que exige elevação dessa despesa para 10% do PIB em dez anos.

Pelas contas do especialista em financiamento educacional Luiz Araújo, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Educacional Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável por essas estatísticas financeiras, se mantiverem a atual toada os gastos público com educação chegarão a 8% do PIB em 2022. Essa constatação coloca em risco todas as outras metas do PNE, que preveem aumento de matrículas da creche à pós-graduação, pagamento de melhores salários para professores e uma série de melhorar pedagógicas.

Segundo Araújo, o país precisa encontrar logo uma nova fonte de receita para acelerar o financiamento educacional ou começar a aumentar os gastos próprios de municípios, Estados e União para não perder de vista a meta do PNE. A primeira possibilidade, diz ele, é mais viável graças a perspectivas de o Congresso aprovar medidas na lei do petróleo que vinculem futuras receitas dos royalties à educação.

Há ainda uma terceira alternativa, que funcionaria como uma manobra, acredita o especialista. Ele menciona uma tentativa do senador José Pimentel (PT-CE) de mudar o projeto de lei do PNE, que foi aprovado na Câmara em junho e agora tramita no Senado. "O Pimentel quer mudar o texto da lei para admitir que se chegue aos 10% do PIB em educação com recursos públicos usados na inciativa privada, usando o conceito de investimento total em educação, outra metodologia de contabilidade", explica Araújo.

O conceito de gasto total em educação considera estimativa de despesas com aposentadorias e pensão, financiamento estudantil e concessão de bolsas. Por essa medida, o Brasil investiu 6,1% do PIB em educação em 2011, ante 5,8% no ano anterior. "Ainda assim seria necessário aumentar o ritmo das despesas para se chegar aos 10% [do PIB]", complementa Araújo.

De acordo com informações que serão divulgadas nos próximos dias pelo Inep, os gastos diretos de 5,3% do PIB com educação em 2011 significam um custo por aluno de R$ 4.916, considerando valor corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) e a média de estudantes da creche ao ensino superior. O maior crescimento dos gastos individuais foi observado no ensino médio, o nível mais problemático do país: alta de 33,5%, passando de R$ 3.153 em 2010 para R$ 4.212 no ano passado. O investimento individual na creche cresceu 20% no período, de R$ 3.134 para R$ 3778. No ensino superior a elevação ficou na casa de 8% (R$ 20.690).

A proporção de gastos com ensino superior em relação ao total investido na educação básica, um indicador bastante usado no setor, mostra que o Brasil segue o movimento de países desenvolvidos. O investimento feito em universidades representa de 4,8% do total investido em educação básica, que atende a mais de 50 milhões de estudantes, enquanto a quantidade de universitários em instituições públicas não chega a 2 milhões. Há dez anos essa relação era de 11%.

"É boa notícia o crescimento do investimento em ensino superior, que ficou estagnado ao longo da década. A tendência é aumentar um pouco mais, pois temos estabilidade das matrículas da educação básica e maior demanda nas universidades, o que exigirá mais orçamento", prevê Araújo.



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Adiada votação do PNE no Senado

Felizmente o relator do Plano Nacional de Educação na Comissão de Assuntos Econômicos, senador José Pimentel (PT/CE), pediu tempo maior pra analisar as emendas que foram apresentadas ao seu relatório.


Apresentaram emendas os senadores Inácio Arruda e Cristovão Buarque (ontem à noite) e o senador Randolfe Rodrigues (no momento da reunião). O relator precisaria emitir parecer sobre cada uma delas, procedimento que impossibilitaria a votação da matéria no dia de hoje.

Um dos fatores que influenciou neste recuo foi, sem sombra de dúvida, o fato de que na mesa de cada um dos senadores membros da CAE constavam duas cartas. Uma de autoria da Campanha Nacional pelo Direito a Educação Pública e outra da CNTE. Nas duas cartas as entidades alertavam para a contrariedade da sociedade civil diante dos evidentes recuos do relatório do senador Pimentel.

Na quinta-feira o PNE completará dois anos de tramitação no Congresso Nacional. Aparentemente o adiamento seria nocivo, mas diante de um relatório com tantos recuos, especialmente na parte do financiamento do futuro plano, adiar foi uma vitória da sociedade civil.

Em fevereiro começará a batalha final pela aprovação do PNE. A primeira parte será na CAE, onde será necessário impedir os recuos. Depois acompanhar a votação sobre a constitucionalidade na CCJ. E, por último, aperfeiçoar o mérito na Comissão de Educação.

A mobilização social será decisiva e, certamente, nas vésperas do Natal seria muito difícil ser eficiente.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Conquista amaeaçada II

Reproduzo interessante matéria da UOL. Grifei na descrição feita pelo jornalista das metas que constam do Relatório de Pimentel alguns pontos que devem merecer atençnao dos educadores, pois significam recuos em relação ao que foi conquistado na Câmara dos Deputados.



UOL: Especialistas veem recuo do governo em destinar 10% do PIB para educação pública
Brasil, 12 de dezembro de 2012
William Maia
Do UOL, em São Paulo

O relatório do senador José Pimentel (PT-CE) sobre o projeto de lei que definirá o novo PNE (Plano Nacional para a Educação) representa um recuo do governo no compromisso de destinar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação pública nos próximos 10 anos, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o texto proposto por Pimentel para as 20 metas do PNE (veja lista abaixo) é um "retrocesso" em relação ao projeto aprovado na Câmara dos Deputados, porque retira a obrigação de destinação exclusiva dos investimentos para a educação pública. "O texto abriu brechas para a transferência de recursos públicos para o setor privado, especialmente no ensino profissionalizante e no ensino superior", diz. "É uma grave deficiência, porque a prioridade deve ser a educação pública".

Segundo Luiz Araujo, ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), a retirada do termo "pública" no texto da Meta 20 pode reduzir o compromisso de investimento na educação pública para aproximadamente 8,5% do PIB. Isso porque o investimento público direto em educação representava 84% do valor total investido no setor até 2009 -- desde então, o MEC (Ministério da Educação) deixou de publicar os dois indicadores separadamente.

"Ao incluir o setor privado no cálculo, o governo promove um roubo de galinha, porque passa a contabilizar também os recursos gastos com bolsas de estudo e com o Fies [Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior]", afirma Araújo.

O senador José Pimentel defende a mudança e alega que o texto aprovado na Câmara não contempla parcerias com a iniciativa privada. "A Câmara trabalhou com a tese de um Plano Nacional de Educação pública, impedindo os avanços nas parcerias com a iniciativa privada. Um exemplo concreto é a participação do Sistema S, especialmente do Senai, na educação técnico-profissionalizante", disse Pimentel, por meio de nota. Ele não respondeu aos pedidos de entrevista até o fechamento desta matéria.

No relatório, o senador também exclui as metas de expansão de vagas públicas no ensino superior e no ensino técnico. Ao contrário da proposta aprovada na Câmara, o relatório de Pimental fala em "vagas gratuitas", o que inclui o bolsas e convênios com escolas e faculdades particulares.

O texto, apresentado nesta segunda-feira (10) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, foi alvo de um pedido de vista coletivo, e deve ser votado na próxima terça-feira (18).
Meta intermediária

Outra crítica em relação à proposta de Pimentel é a retirada da meta intermediária de alcançar 7% do PIB em quatro anos – em 2011, o investimento público em educação foi de 5,3%. "Isso tira as condições de a população acompanhar o cumprimento das metas e atrapalha o próprio planejamento do governo", argumenta Daniel Cara. "Essas mudanças são surpreendentes porque se tratava de um consenso. Vamos tentar convencer o senador a mudar de ideia, se não, teremos de vencer no voto", complementa.

Luiz Araújo, por outro lado, não se mostra otimista e acredita que o senador tem o aval do governo. "Não acredito que o Pimentel faria uma alteração como essa sem o aval do Ministério. O problema é que o ministro [Aloísio Mercadante] não assumiu publicamente que pretende reduzir os 10% do PIB para a educação pública".
Recursos do pré-sal

Outra emenda proposta por Pimentel estabelece que todos os recursos provenientes das compensações pela exploração de recursos minerais e pelo uso dos recursos hídricos sejam destinado à educação. O texto, no entanto, não estabelece os percentuais destinados à área.

"O Congresso está fazendo um grande debate sobre a destinação dos royalties e essa discussão vai continuar nos próximos meses. Então, em vez de determinar percentuais, estabelecemos que lei específica tratará dessa vinculação", disse o senador, acrescentando que essa discussão se dará nos debates sobre a Medida Provisória 592, enviada pela presidente Dilma Rousseff para regular a exploração do petróleo da camada pré-sal.

Veja a seguir as 20 metas do PNE propostas no relatório do senador José Pimentel:

1. Educação Infantil: garantir vaga na escola pública para todas as crianças de 4 e 5 anos até 2016, e para 50% das crianças de até 3 anos até 2020.

2. Ensino Fundamental: universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de 6 a 14 anos.

3. Ensino Médio: garantir atendimento escolar para todos os jovens de 15 a 17 anos até 2016.

4. Deficientes e superdotados: universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.

5. Alfabetização: alfabetizar todas as crianças até, no máximo, 8 anos de idade; elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015; erradicar até 2020 o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

6. Tempo integral: oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.

7. Qualidade na educação: Garantir a melhoria da qualidade da educação brasileira com a adoção de uma série de estratégias, como a criação de parâmetros mínimos de qualidade dos serviços de educação básica,

8. Escolaridade média: elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar o mínimo de 12 anos de estudo para a população do campo e para os 25% mais pobres; e igualar a escolaridade média entre negros e não negros.

9. Alfabetização de jovens: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até 2020, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

10. Educação profissional: oferecer o mínimo de 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

11. Educação profissional técnica de nível médio: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% de vagas gratuitas na expansão.

12. Ensino superior: elevar a taxa de matrícula na educação superior para 33% da população de 18 a 24 anos. Em relação às faculdades particulares, a meta inclui a expansão da oferta de matrículas gratuitas em instituições particulares e a ampliação do financiamento estudantil.

13. Qualidade do ensino superior: elevar a atuação de mestres e doutores nas instituições para 75%, no mínimo, do corpo docente, sendo, do total, 35% de doutores.

14. Pós-graduação: elevar gradualmente o número de matrículas nos mestrados e doutorados, de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores

15. Professores graduados: garantir que todos os professores da educação básica tenham formação continuada em nível superior de graduação e pós-graduação, gratuita e na respectiva área de atuação.

16. Professores pós-graduados: garantir que, até o último ano de vigência do PNE, 80% dos professores que atuam na educação básica tenham concluído curso de pós-graduação stricto ou lato sensu em sua área de atuação.

17. Valorização do professor: equiparar o rendimento médio dos profissionais do magistério das redes públicas de educação básica ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência do PNE.

18. Plano de carreira: estruturar as redes públicas de educação básica de modo que, até o início do terceiro ano de vigência desta PNE, 90% dos respectivos profissionais do magistério e 60% dos respectivos profissionais da educação não docentes sejam ocupantes de cargos de provimento efetivo e estejam em exercício nas redes escolares a que se encontrem vinculados;

19. Gestão: Garantir a gestão democrática na educação básica e superior pública. Estimular, em todas as redes de educação básica, a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e associações de pais.

20. Financiamento: Ampliar o investimento público em educação de forma a atingir, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB (Produto Interno Bruto) ao final do decênio

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Arroubo privatista

Ontem (11.12.12) o senador José Pimentel (PT/CE) fez a leitura do seu Relatório sobre o PLC 103/2012, que estabelece o novo Plano Nacional de Educação. Foram concedidas vistas coletivas e o texto pode ser votado na terça-feira que vem (18.12.12) na Comissão de assuntos econômicos do Senado. Após esta votação o projeto seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça e depois para a Comissão de Educação.


O relatório lido é decepcionante, mas não pode ser acusado de incoerente. Pelo contrário, nas suas linhas (e entrelinhas) está expressa a posição oficial do Ministério da Educação, seja no que melhora o texto aprovado na Câmara, seja nos vários aspectos em que representa um retrocesso.

Há um fio condutor nas mudanças mais significativas: recupera a ideia inicial do PL nº 8035/2010 de que o crescimento da oferta de vagas nos níveis mais descobertos do ensino deve ser feito em “parceria” com o setor privado. Quatro emendas desnudam essa estratégia revisitada pelo relator.

A primeira é a emenda que altera a META 11 do PNE. Na Câmara foi aprovado o seguinte texto (grifos nossos):

Meta 11: Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos cinquenta por cento da expansão no segmento público.

O senador Pimentel propôs a seguinte redação (grifos nossos)

Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos cinquenta por cento de vagas gratuitas na expansão.

Mais do que um ajuste de redação, o que o relator está propondo é uma mudança conceitual muito importante. A Comissão Especial da Câmara acatou a sugestão da sociedade civil e dos especialistas em educação de que a expansão da rede profissionalizante precisaria ser mais audaciosa (isto o relator mantém) e que a participação do setor público (menor que 50% nos dias de hoje) precisaria sofrer uma aceleração.

Em paralelo a tramitação do PNE o governo federal conseguiu aprovar o PRONATEC, programa de concessão de incentivos a iniciativa privada por meio de bolsas para a oferta de vagas gratuitas. Este programa marca uma mudança de rumo dentro do governo, pois no segundo mandato de Lula havia sido retomado o crescimento da rede federal profissionalizante. Agora a prioridade da expansão passou a ser subvencionar o sistema S e outras instituições particulares.

Coerente com a prioridade governamental o relator mantém o critério de que 40% da expansão não seja paga pelo aluno, mas retira a obrigatoriedade de que o poder público preste de forma direta o serviço, abrindo as portas para o repasse de mais recursos ao setor privado.

A segunda emenda altera a redação da META 12, que trata da expansão de vagas no ensino superior. Abaixo reproduzo texto aprovado na Câmara (grifos nossos):

Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para cinquenta por cento e a taxa líquida para trinta e três por cento da população de dezoito a vinte e quatro anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, quarenta por cento das novas matrículas, no segmento público.

O senador Pimentel oferece uma nova redação (grifos nossos):

Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para cinquenta por cento e a taxa líquida para trinta e três por cento da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e gratuidade para, pelo menos, quarenta por cento das novas matrículas.

O espírito desta mudança é idêntico ao da emenda anterior, ou seja, garante que 40% das vagas a serem criadas na próxima década sejam gratuitas, mas não necessariamente públicas. No caso do ensino superior isto significa o alargamento do hiato entre vagas públicas e vagas privadas já existente e um maior volume de recursos para o FIES e PROUNI.

A terceira emenda é mais sutil. Hoje um dos maiores desafios é conseguir expandir as matriculas de crianças de zero a três anos. Na educação básica é justamente nesta faixa etária que encontramos a menor cobertura (20,8% apenas), maior presença do setor privado na oferta (quase 30%) e maior desigualdade social no atendimento (os pobres estão excluídos do serviço de creche).

A sociedade civil conseguiu inserir uma estratégia (1.16) que obriga o poder público a fazer levantamento anual da demanda manifesta por educação infantil. É óbvio que este procedimento significa aumentar a pressão sobre os gestores para cumprir as metas do plano em relação a este nível de ensino.

O relator está propondo a supressão do texto aprovado na Câmara, pois o levantamento criará pressão para que a oferta de novas vagas seja feita diretamente pelo poder público, inibindo outras formas mais “criativas” de cumprir a META 01, como por exemplo, a expansão do conveniamento com entidades comunitárias e religiosas.

A quarta emenda, já comentada no dia de ontem, sintetiza o arroubo privatista do relator. O relatório lido na CAE propõe retirar de forma singela a palavra “pública” do texto da META 20. O que isto quer dizer:

1. Que o relator aparentemente mantém a destinação de 10% do PIB para a educação, mas na verdade opera uma mudança na base de cálculo deste indicador;

2. A manobra não é nova e já foi tentada pelo deputado Vanhoni na Comissão Especial da Câmara;

3. A redação atual contabiliza apenas os recursos aplicados pela União, por estados, pelo Distrito federal e pelos municípios nas suas respectivas redes. A nova redação adiciona no cálculo gasto com bolsas de estudos, financiamento estudantil e até cálculo de aposentadorias.

4. Caso se mantenha a diferença entre investimento total (educação sem a palavra pública) versus investimento direto (educação pública) existente em 2010 (última ano divulgado) o que o relator está propondo é que, no máximo, se aplique 8,8% do PIB em educação pública ao final da década e não mais 10%. A diferença iria toda pros bolsos das entidades privadas subvencionadas.

A votação está marcada para acontecer faltando sete dias pro Natal, época em que mobilizar a sociedade civil se torna mais difícil. Por isso, vale um esforço grandioso para impedir que esta maldade natalina aconteça.



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Conquista ameaçada

Em junho deste ano o movimento dos educadores conseguiu uma grande proeza: aprovou na Comissão Especial da Câmara dos Deputados o percentual de 10% do PIB para a educação pública.


Naquela época o deputado Ângelo Vanhoni tentou enganar os seus pares e toda a sociedade civil com uma manobra linguística. Ele propôs aumentar o percentual de 7% para 8,2%, mas retirou a palavra “pública” do indicador que mensura o gasto com o PIB.

Na verdade o que Vanhoni tentou fazer foi incluir no indicador os gastos públicos com a iniciativa privada. Ao ser descoberta a manobra o então relator ficou totalmente desmoralizado.

Na tarde de ontem o relator da matéria na CAE do Senado, senador José Pimentel (PT/CE) ressuscitou a mesma manobra, numa tentativa de reverter a derrota que o governo sofreu na Câmara dos Deputados.

A redação aprovada na Câmara para a META 20 foi a seguinte:



Meta 20: Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de sete por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do País no quinto ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a dez por cento do PIB ao final do decênio.



A redação proposta pelo relator Pimentel é a seguinte:



Meta 20: ampliar o investimento público em educação de forma a atingir, no mínimo, o equivalente a dez por cento do Produto Interno Bruto (PIB) ao final do decênio.



São, na verdade, duas importantes profundas mudanças.

A primeira é que ele retirou a palavra “pública” e isto altera não só a redação, como também os cálculos dos investimentos. Existem dois indicadores utilizados sobre o assunto: 1) Investimento público direto em educação e 2) Investimento público total em educação.

O primeiro contabiliza somente os gastos públicos aplicados nas diversas redes públicas de educação (federal, estaduais e municipais). O segundo, além dos gastos nas redes públicas, contabiliza também as bolas de estudo e financiamento estudantil (concedidos pelo governo federal e também por estados e municípios).

A segunda modificação é que ele retirou a meta intermediária de 7% para os quatro primeiros anos de vigência.

A consequência da retirada da palavra “pública” é gigantesca. Significa que ao invés do compromisso de chegarmos ao final da década aplicando 105 do PIB nas escolas públicas, no máximo o texto obrigará a aplicar 8,5%. Um verdadeiro “roubo de galinha”. É uma forma disfarçada de derrubar os 10% e aparecer para a opinião pública que o mesmo continua valendo.

Existem outras alterações complicadas dentro do relatório, mas essa sintetiza um ataque frontal a uma das principais conquistas dos educadores brasileiros.





terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Reflexão sobre royalties para educação

Reproduzo instigante análise feita pela Auditoria Cidadã da Dívida sobre a Medida Provisória 592, que versa sobre destinação dos royalties para a educação.
Depois desta leitura vou caprichar na naálise do texto, pois não podemos comprar gato por lebre, caso seja este o caso.

Royalties do Petróleo: para a educação ???




Nos últimos dias, o governo divulgou amplamente a idéia de que vai destinar 100% dos royalties do Petróleo para a Educação. Membros do governo têm afirmado que esta medida permitiria a obtenção dos tão almejados 10% do PIB para a Educação.

Porém, analisando-se a Medida Provisória 592, editada ontem, verifica-se que apenas uma pequena parte dos royalties irá para esta área social. No caso dos atuais royalties, nada muda, ou seja, não há nenhum incremento de recursos para a educação.

No caso da futura exploração do petróleo no “Pré-sal”, verifica-se que os royalties representarão apenas 15% do valor da produção, o que não condiz com as recentes afirmações do governo de que o “Pré-sal” seria como um “bilhete premiado” e que por isso o Estado deveria ficar com grande parcela do valor da produção. Em países que são grandes produtores de petróleo, tal percentual chega a 70% ou mais.

Além do mais, destes 15%, nada menos que 78% irão para estados e municípios, sem nenhuma obrigatoriedade de aplicação na educação. Somente 22% destes 15% (ou seja, apenas 3,3% do valor da produção do “Pré –sal”) irão para o chamado “Fundo Social”, do qual, em tese, 50% iriam para a educação. Portanto, temos somente 1,65% do “Pré-sal” para a educação.

Porém, analisando-se a Medida Provisória, verifica-se que não é verdade que 50% dos recursos do Fundo Social iriam para a educação. Na realidade, os recursos do “Fundo Social” não irão para as áreas sociais, mas para aplicações financeiras preferencialmente no exterior, e somente o rendimento das mesmas é que irá para áreas sociais. Deste rendimento, aí sim, 50% iriam para a educação. Se é que haverá rendimento, pois em tempos de crise global, tais recursos podem ser aplicados em papéis que se mostrem podres do dia para a noite. Especialmente porque os bancos internacionais estão abarrotados destes papéis, esperando alguém que compre estes “micos”.

A destinação de 100% dos royalties para a educação somente ocorrerá no caso de futuros contratos de concessão, ou seja, quando novos poços de petróleo – localizados fora do “Pré-sal” – forem entregues à iniciativa privada. Ou seja: é preciso que se leiloe os atuais poços de petróleo para que a educação receba recursos. Dentro deste esquema, criado por FHC em sua lei 9.478/1997, os principais lucros ficam com as petroleiras privadas e multinacionais, dentre as quais se inclui a Petrobras, que distribui seus dividendos aos seus sócios privados e ao governo federal que, segundo a lei 9.530/1997, deve destinar tais lucros ao pagamento da dívida pública.

Ainda que todos os poços de petróleo em operação atualmente no país fossem leiloados novamente à iniciativa privada, obteria-se cerca de R$ 27 bilhões anuais em royalties, que representam 0,6% do PIB, insuficientes para se aumentar dos atuais 5% para 10% do PIB aplicados anualmente em educação.



Auditar a dívida para garantir 10% do PIB para a Educação

Em 2011, o governo federal destinou R$ 708 bilhões para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, o que correspondeu a 45% de todos os gastos do Orçamento Geral da União. Este valor gasto com a dívida significou 17% do PIB, ou seja, mais que o triplo dos recursos necessários para se ampliar de 5% para 10% do PIB os recursos anualmente destinados para a educação.

Neste ano de 2012, até o final de outubro a dívida já tinha consumido R$ 709 bilhões, ou seja, mais que todo o gasto de 2011. Isto ocorre apesar da tão falada queda na taxa de juros “Selic”, dado que, atualmente, apenas 24% dos títulos da dívida interna de responsabilidade do Tesouro Nacional estão vinculados a esta taxa, conforme mostra a tabela da Secretaria do Tesouro Nacional (quadro 2.5).

Nesta mesma tabela (quadro 4.1) verifica-se que o custo médio da dívida pública federal interna está em cerca de 11% ao ano, ou seja, bem mais que a Taxa Selic, atualmente em 7,25% ao ano.

Portanto, os gastos com a dívida aumentam apesar da tão falada “queda dos juros”. Somente uma profunda auditoria (prevista na Constituição de 1988, porém, jamais cumprida) poderá rever o enorme estoque do questionável endividamento público brasileiro, que cresce ano a ano, devido principalmente ao ilegítimo mecanismo de “juros sobre juros”.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – http://www.auditoriacidada.org.br/





segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um veto absurdo

Uma das principais polêmicas dos setores educacionais organizados com a legislação educacional, com a gestão de FHC e também de Lula é que se manteve uma lógica de avaliar os sistemas educacionais a partir de testes padronizados em larga escala. Esta política, infelizmente, só tem se ampliado.


O deputado Ivan Valente (PSOL/SP), coerente com seu compromisso com a uma sistemática de avaliação educacional que não seja restrita a este modelo, apresentou em 2003 o projeto de lei nº 1200/03, alterando o inciso VI do artigo 9º da Lei de Diretrizes e Bases.

O texto atual da LDB diz o seguinte:

VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;

Depois de muito tempo finalmente em 2012 o Projeto foi aprovado e o texto passaria a ter o seguinte teor:

VI – assegurar processo nacional de avaliação do ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;



Hoje, a Presidenta Dilma publicou o VETO TOTAL ao Projeto de Lei. As razões do veto são absurdas. Diz a mensagem do veto:

“A proposta, da forma como redigida, permite a interpretação equivocada de que a União estaria impedida de realizar avaliação sobre o rendimento escolar do ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino.”

A simples leitura do texto aprovado permite concluir que o Palácio do Planalto omitiu do Congresso Nacional e do povo brasileiro o verdadeiro motivo do veto. É óbvio que retirar a expressão “rendimento escolar” do texto não impede que se continue promovendo avaliações por meio de provas nacionais de rendimento. O que o governo não quer é fazer uma avaliação mais completa, que englobe outros aspectos, inclusive sobre as condições de oferta do ensino, fator que tanto os educadores denunciam como um dos condicionantes do péssimo desempenho de escolas abandonadas á própria sorte.

Qual o medo de tornar a avaliação mais complexa, mais próxima da realidade. O governo jogou fora uma oportunidade impar de tornar a fotografia da situação educacional mais nítida, mais precisa. Preferiu manter a linha de avaliar os sistemas somente por meio do desempenho dos alunos.



Desigualdades continuam sendo a tônica

Recentemente foi publicado pelo IBGE um excelente trabalho denominado “Síntese de Indicadores Sociais – uma análise das condições de vida da população brasileira”. Li atentamente a parte relativa à educação e recomendo a todos que façam o mesmo.


O que mais me chamou a atenção foi que as desigualdades sociais continuam sendo a tônica quando se avalia os resultados da oferta educacional em nosso país. O próprio documento sintetiza o dilema:

(...) não se pode perder de vista que, sem avanço nas condições de vida da população e redução das desigualdades sociais, a educação dificilmente cumprirá seu papel de promotora de igualdade de oportunidades, pois as características socioeconômicas das famílias são os principais determinantes, tanto do desempenho escolar quanto das chances de progressão ao longo da trajetória escolar, como indicam diversos estudos de referência nacionais e internacionais.

Taxa de frequência de crianças de zero a três anos em 2011 foi de apenas 20,8%. Para crianças de quatro e cinco anos (pré-escola) esta taxa de atendimento chegou a 77,4%, porém apenas 55,2% das crianças de quatro anos estavam matriculadas no ano passado.

As desigualdades sociais ficam transparentes no referido documento quando são sistematizados os dados de frequência líquida de jovens entre 15 e 17 anos, idade esperada para o ingresso no ensino médio. O número para o Brasil aponta que apenas 51,8% dos jovens estão corretamente alocados no nível de ensino que deveriam estar, o que já é uma tragédia, mas quando se verifica os mesmos números por corte de renda, apenas 36,8% dos jovens do quinto mais pobre da população estão no ensino médio, enquanto no quinto mais rico este patamar já chegou a 74,5%.

O documento investiga o mesmo fenômeno por outro caminho, o qual mostra que há também uma continuidade da desigualdade racial. Basta verificar em que nível de ensino os jovens com idade entre 18 a 24 anos se localizam. Ainda temos 24,1% de jovens brancos presos no ensino médio nesta faixa etária e 4,5% cursando ainda o ensino fundamental, mas 65,7% já se encontram no ensino superior. Já os jovens negros possuem 45,2% do seu contingente preso no ensino médio, 11,8% no ensino fundamental e apenas 35,8% conseguem chegar a um curso superior na idade correta.

Na mesma faixa etária temos dentre os mais pobres apenas 7,7 anos completos de estudo contra uma média brasileira de 9,6 anos. O quinto mais rico consegue 11,7 anos de anos de estudo. Dito de outra forma: 84,4% dos jovens ricos conseguem completar pelo menos 11 anos de estudo até os 24 anos, mas apenas 26,9% dos jovens pobres conseguem tal façanha. Isso quer dizer que um jovem rico tem 14,6 vezes mais chances de terminar o ensino médio, pelo menos, do que um jovem pobre.

Podemos investigar a desigualdade social comparando o perfil dos estudantes na rede pública e particular. No ensino fundamental público existe 38% de alunos do quinto mais pobre da população e apenas 4,5% que pertencem ao quinto mais rico. Na escola particular 42,6% são do estrato mais rico e apenas 6,4% dos mais pobres.

A situação do ensino médio é mais angustiante, pois os pobres nem conseguem acessar a vaga, sendo registrada a participação de apenas 22,4% de alunos oriundos do quinto mais pobre na escola pública. Os ricos estudam em escolas particulares (53,2% das vagas são ocupadas por este estrato social).

O estudo do IBGE enterra um dos mais antigos e repisados mitos da educação brasileira. Refiro-me ao discurso de que os ricos estão na universidade pública e os pobres nas universidades privadas. Não é verdade esta afirmação. O que o estudo trouxe de informações sobre este assunto:

1. Temos percentualmente mais pobres nas instituições públicas de ensino superior do que na rede privada (7,1% contra 3,5%). A mesma acontece com o segundo quinto mais pobre (ou nova classe média, como alguns tentam nos convencer!), que ocupa 10,2% das vagas públicas contra 6,6% na rede privada;

2. Temos percentualmente mais ricos nas instituições particulares do que nas públicas (48,3% contra 41%). Da mesma forma o quarto quinto da população (classe média alta?) também se localiza percentualmente mais na rede privada (28,1% contra 25,3%).

Na verdade o funil de classe está instalado no ensino médio e é aprofundado no ensino superior.

Espero que os dados sistematizados pelo IBGE, os quais são muito mais ricos do que esta pequena síntese que fiz aqui no blog, possam influenciar os senadores quando do debate sobre o conteúdo do novo plano nacional de educação.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Indefinições para 2013 – 2ª parte

No dia 1º de janeiro se realizarão a posse de 5565 prefeitos. Em muitos locais este ato representará uma nova chance de superar as dificuldades vivenciadas pela população local, em outros significará apenas a continuidade do abandono habitual.


Mas, em todos os casos haverá uma preocupação recorrente: como pagar o piso salarial do magistério.

Eu adiciono a esta relevante preocupação ao fato de que continuamos vivendo uma indefinição sobre o valor do piso para 2013. Como todos os educadores e gestores acompanharam, houve um acordo entre as entidades representativas dos trabalhadores em educação e de gestores estaduais e municipais acerca de alterações na forma de cálculo do valor do piso. Este acordo, de forma sintética prevê o seguinte: o Piso seria reajustado anualmente, no mês de maio, com base na reposição da inflação pelo INPC e mais 50% equivalente ao crescimento das receitas do Fundeb.

Bem, para que isto vire a regra vigente existem dois caminhos:

1. A Câmara dos Deputados aprovar ainda este ano a reformulação da Lei nº 11738/2008; ou

2. O governo federal editar uma Medida Provisória alterando a referida Lei, pois tal instrumento entra em vigor imediatamente, mesmo que possa ser reformulado ou rejeitado pelo Parlamento.

Até agora não testemunhamos nenhuma indicação sobre qual caminho será seguido. Inclusive faltam indicações se será seguido algum caminho.

Moral da história: os prefeitos eleitos não sabem em que cenário terão que organizar seus orçamentos em discussão neste mês nas Câmaras Municipais:

1º cenário - Terão que reajustar o valor do piso a partir do dia 1º de janeiro tendo por base as regras atuais, ou seja, bancar um reajuste de 21,75%, que reajustaria o piso dos atuais R$ 1451,00 para R$ 1766,59.

2º cenário – O reajuste seria apenas a partir de 1º de maio e no máximo o valor sofreria um reajuste em torno de 12,56% e o piso passaria a ser de R$ 1.633,25.

Cabe ao Ministério da educação e a Presidência da Câmara dos Deputados a apresentação de um posicionamento mais claro sobre a questão, evitando adicionar mais um elemento de instabilidade na transição de governo deste final de ano.







quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Indefinições para 2013 – 1ª parte

Uma das consequências dos remédios amargos implementados pelo governo para conter os efeitos da crise econômica mundial tem sido a queda de arrecadação de impostos e, por conseguinte, a queda das transferências constitucionais obrigatórias.


A queda do ritmo da atividade econômica impacta a quase totalidade dos entes federados. A diminuição da atividade econômica (todo dia é revisada pra baixo a estimativa do PIB para este ano) provoca queda na arrecadação das duas fontes principais que sustentam a política educacional: o FPM e o ICMS.

Com raras exceções, os recursos disponíveis para serem distribuídos via o FUNDEB cairão. Isso quer dizer que os valores por aluno, estimados em dezembro do ano passado, não se realizarão. Alertei para este fato há pelo menos três meses neste espaço virtual.

Acontece que a informação de que o MEC editaria uma nova portaria revisando pra baixo os valores por aluno parece que foi abortada. Fontes indicavam que o texto estava na mesa do Ministro Mercadante, mas parece que o mesmo se extraviou, não restando claro os motivos.

Ao invés de admitir o erro da estimativa no FUNDEB, a linha do governo federal foi fazer outras concessões aos prefeitos eleitos, minimizando os problemas de fechamento das contas do final do ano. O caminho foi permitir parcelamentos maiores de dívidas com o INSS e coisas do gênero. Não foi acenado, pelo menos até o momento, com nenhum suplemento financeiro para cobrir o rombo na área educacional (e em outras áreas essenciais, obviamente).

No dia 1° de janeiro assumirão os novos gestores municipais e esta posse será marcada pela incerteza sobre a veracidade das estimativas que serão publicadas pelo governo federal nos últimos dias de 2012 no que diz respeito à estimativa de valor por aluno pro FUNDEB em 2013. Se a estimativa estava errada para 2012, qual motivo pra dar crédito para a estimativa de 2013.

E, agindo assim, o governo federal vai contribuindo para que os números oficiais do FUNDEB passem a ter menos credibilidade.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Cada um no seu quadrado

Estes últimos dias as redes sociais foram instrumento de mobilização dos educadores brasileiros comprometidos com uma educação pública de qualidade contra a possível indicação da secretária de educação da cidade do Rio de Janeiro para ocupar a Secretaria de Educação Básica do MEC.


Depois desta instantânea e representativa reação à senhora Cláudia Costin recusou o convite. Pensei que o assunto estava superado e poderíamos ocupar o nosso tempo com outras demandas mais relevantes, mas dois textos que circularam no dia de hoje não permitem que o assunto seja de pronto enterrado.

Um artigo do João Batista Oliveira, ex-secretário executivo do MEC na gestão do FHC destila todo o ódio dos tucanos contra os educadores que se mobilizaram contra a indicação de Costin. Este senhor apresenta o “seu programa” para o MEC e exorta Mercadante a fugir das trevas e seguir a luz que ele apresenta e que Costin representa.

Diz que:

“É preciso libertar o MEC da prisão corporativista em que se meteu. Passou da hora de romper com o dogmatismo ideológico das universidades e núcleos que propagam ideias equivocadas e ineficientes há décadas. (...) É preciso dar espaço a quem tem resultados para mostrar e estimular iniciativas que possuem evidência comprovada de sua eficácia”.

E finaliza bombasticamente:

“O estrago foi feito. Mercadante sinaliza que quer romper com o imobilismo dos que vêm imobilizando o MEC, especialmente na área de educação básica”.

O outro texto, postado no blog de Simon Schwartzman, personalidade da mesma estirpe do autor do primeiro artigo, reproduz um abaixo-assinado de desagravo a Cláudia Costin, elogioso de suas “realizações” à frente da Secretaria de Educação do Rio e assinado por quase todo o governo de FHC. Destaco Pedro Malan, Edmar Bacha, Maria Helena de Castro e Maria Inês Fini, dentre outras pessoas conhecidas.

O que mais me chamou a atenção e me motivou a escrever este post foi a transcrição do discurso da presidenta Dilma no lançamento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Dentre os trechos transcritos destaco os seguintes:

“(...) não há como aferir se as crianças estão seguindo um ciclo de alfabetização efetivo sem avaliar. E não há como fazer isso sem fazer testes objetivos.

(...) Vamos também premiar o mérito. Premiar o que está dando certo. Professores e escolas que se destacarem, que conseguirem alcançar os melhores resultados receberão prêmios”.

É esta linha, exatamente, que a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro vem seguindo na gestão de Claudia Costin.

E o manifesto afirma que esta é a linha implementada pela Cláudia Costin na gestão no Rio de Janeiro.

Por isso o título do post pode se converter na pergunta sobre qual é o quadrado de cada um. Sou forçado a concordar parcialmente com os autores do segundo manifesto. A indicação de Cláudia Costin não guardava coerência com o que se espera de uma gestão de esquerda na educação, mas que há muita prática similar entre as duas gestões, isso há.

A reação dos educadores a indicação de Costin deveria ser acompanhada de uma substancial crítica a assimilação por parte do governo federal de conceitos e práticas tucanas na área educacional (não vou falar aqui sobre as outras áreas, por economia de espaço!).

O problema não está no que fazem os tucanos, investindo em exames de larga escala e sistemas de premiação. O que está errado é um governo dito de esquerda ter assimilado o programa do partido adversário.

Em um governo de esquerda não cabe uma Costin, mas no programa implementado pelo MEC ela cabe como uma luva. Esta é uma contradição que precisa ser discutida e enfrentada.

Esta assimilação é que permite a que um João Batista cobre coerência de Mercadante.

Está na hora dos educadores perguntarem pro Ministro: qual é o teu quadrado?

Sem pressa

Faltando pouco pra completar dois anos de tramitação no Congresso Nacional o Plano Nacional de Educação parece que não vai mesmo virar prioridade.


Para sair dos corredores da Câmara dos Deputados e ser finalmente aprovado na Comissão Especial foram precisos 18 meses. Depois o projeto ficou numa espécie de limbo, entre recursos e o recesso eleitoral. E somente em outubro é que chegou ao Senado Federal.

Ao contrário de outros projetos que foram encarados como urgentes e prioritários, o PLC 103/2012 foi distribuído para três Comissões da Casa. Analisarão o texto as Comissões de Assuntos Econômicos, de Constituição e Justiça e de Educação e Cultura. A última tem a competência de opinar sobre o mérito da matéria. A primeira deve refletir sobre sua coerência econômica e a segunda sobre o cumprimento dos pressupostos legais.

Quando a reforma do Código Florestal chegou ao Senado houve uma intensa movimentação para que o tema tivesse celeridade. Assim, optou-se pela tramitação conjunta de comissões e com isso ganhou-se tempo. Até agora não houve nenhuma movimentação neste sentido. Aliás, apenas a Comissão de Assuntos Econômicos está, de fato, analisando a matéria e marcou audiências públicas sobre o assunto. O relator na CAE é o senador José Pimentel.

A forma e o ritmo de tramitação de uma matéria dizem muito sobre o conceito que a mesma tem para o governo e para os parlamentares. É evidente que após a aprovação de 10% do PIB para a educação houve uma perda de interesse do governo com a celeridade de sua aprovação.

Caso o governo quisesse acelerar a tramitação poderia ter tomado as seguintes medidas: articulado a escolha de um único relator nas três comissões, aprovado requerimento de tramitação em conjunto e, acordado entre os líderes que a matéria seria prioritária para deliberação neste final de ano.

Todos os elementos dispostos à mesa neste momento apontam para um caminho contrário. A aprovação de um novo PNE ficará para o ano que vem e no dia 20 de dezembro próximo poderemos promover a festa de aniversário de dois anos de sua tramitação. E, ao mesmo tempo, chorar por dois anos sem a vigência de plano educacional em nosso país.

Talvez haja alguma linha de coerência entre a inexistência de um plano educacional que recolha as contribuições e os anseios da sociedade civil e a tentativa de nomear para chefiar a Secretaria de Educação Básica uma notória e renomada neoliberal. Espero estar errado.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sempre pode piorar

Esta semana vazou nas redes sociais que o atual Secretário de Educação Básica do MEC, professor Calegari, estaria de saída e que já estava certo o convite para que atual Secretária de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, assuma o posto.


Faço minhas as palavras escritas em um manifesto que diversos pesquisadores estão preparando.

Quem ganha com isso? De um lado, sai vitorioso o governador Cabral e o PMDB, que acaba de ser blindado na CPMI do Cachoeira contra suas ligações perigosas com a empresa Delta Construções. E os pensadores neoliberais comemorarão a conquista de mais um espaço no atual governo.

Quem perde com esta indicação? Os defensores da educação pública.

Leiam o texto:

Cláudia Costin, NÃO!


A privatização do ensino público, a fragmentação do trabalho docente, a perda da autonomia dos professores, a submissão estrita aos cânones neoliberais têm sido implementados por Cláudia Costin à frente da Secretaria Municipal da Educação na cidade do Rio de Janeiro.

Seu autoritarismo didático e de conteúdos, prescritos em cadernos e apostilas, emanado das orientações dos organismos internacionais ampliam o abandono da educação básica da grande maioria da população, historicamente relegada à carência de escolas e, mais recentemente, à desqualificação da educação nas escolas existentes. Além disso, no Rio de Janeiro, professores, gestores e funcionários tem sido alvo de aliciação pecuniária, os bônus financeiros, através de remuneração extraordinária pelo desempenho dos alunos, traduzido em um percentual de aprovação de alunos nas turmas e no conjunto da unidade escolar, como compensação aos baixos salários.

Não por caso, quando Ministra da Administração Federal e Reforma do Estado no governo FHC, foi uma das responsáveis pela idealização e implementação do desmonte do Estado, incluindo-se aí as privatizações ou a venda do país e a quebra da estabilidade dos servidores públicos.

Se confirmada Cláudia Costin à frente da Secretaria de Educação Básica, é esperada a descaracterização da educação fundamental e média com o apagamento do professor e do aluno como sujeitos históricos. Costin faz parte de um grupo de intelectuais que seguem a férrea doutrina do mercado, onde tudo vira capital, inclusive as pessoas. Não mais educação básica, direito social e subjetivo, mas escola fábrica de capital humano. Uma versão bastarda do ideário republicano de escola, como a define Luiz Gonzaga Belluzzo, em brilhante texto na Carta Capital de 29.08.2012. Esta visão bastarda de educação objetiva apagar qualquer senso crítico dos alunos. Trata-se de transformar, para Belluzzo, recorrendo a Marshall Berman, a ação humana em repetições ¬rançosas de papéis pré-fabricados, reduzindo os homens a indivíduos médios, reproduções de tipos ¬ideais que incorporam todos os ¬traços e qualidades de que se nutrem as comunidades ilusórias.

Delegar à economista esse setor vital da educação brasileira é declinar de todos os embates e propostas da educação, em contraponto às políticas neoliberais dos anos 1990 até a eleição de 2002. Com isso, o Governo assina sua incompetência para ter uma política própria de educação básica como formação humana, em favor do tecnicismo e da intervenção de grupos privados no interior das escolas públicas.

Professores, pesquisadores estudantes e suas entidades representativas vêm publicamente, protestar contra o arbítrio economicista, degradante e mutilador para a educação das gerações de jovens da educação básica que sua presença na SEB traria à educação básica, não apenas na cidade do Rio de Janeiro, mas em todo Brasil. Cláudia Costin, NÂO!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Piso sofrerá mudanças

No dia de ontem uma comissão de deputados federais, responsável por debater a forma de reajuste do Piso Salarial dos Profissionais do Magistério Público da Educação Básica apresentou ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT/ RS), a proposta para o reajuste do Piso Salarial formulada pela Undime, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e Campanha Nacional pelo Direito à Educação.


Basicamente a proposta que foi entregue é a seguinte: o Piso será reajustado anualmente, no mês de maio, com base na reposição da inflação pelo INPC e mais 50% equivalente ao crescimento das receitas do Fundeb.

A intenção é de que o texto seja encaminhado como Medida Provisória, para ter validade imediata. Ao entrar em vigor, a Medida Provisória automaticamente tiraria a eficácia da ADIn 4848 – apresentada por governadores – por se tratar de uma nova legislação e não ser o conteúdo questionado no Supremo Tribunal Federal.

É mais uma tentativa de resolver uma polêmica que se arrasta desde 2008, ou seja, há um desacordo sobre a forma correta de corrigir os valores do piso nacional do magistério.

Alguns esclarecimentos:

1. Atualmente a forma de correção utilizada é feita levando em consideração a variação do valor mínimo por aluno do FUNDEB dos dois anos anteriores, ou seja, considera-se a variação deste valor entre 2012 e 2011 para estabelecer o percentual que corrigirá o piso em 2013. O reajuste, por força da Lei nº 11738/2008, é feito no mês de janeiro.

2. O governo federal tentou aprovar no Congresso Nacional uma mudança que estabelecia correção pela inflação do ano anterior. Esta proposta chegou a ser aprovada na Câmara dos Deputados, mas caiu no Senado Federal.

3. No Senado federal chegou a ser aprovado um substitutivo que estabelecia correção pela variação real (realmente executada) do valor mínimo por aluno nos dois anos anteriores ou, caso menor, pela inflação do ano anterior. A data do reajuste passaria para maio, para que os dados efetivamente executados estivessem disponíveis.

4. O governo conseguiu derrubar o substitutivo e o impasse continuou. Houve forte reação dos governadores e prefeitos contra correções acima de 20% (de 2012 e projetada para 2013). Daí que veio a ideia de formar uma comissão de deputados que buscasse intermediar um acordo entre as partes envolvidas (gestores e trabalhadores).

5. Recentemente os governadores voltaram a questionar a validade da lei, agora no que se refere ao formato de correção do valor do piso.

O acordo anunciado, pelo que parece com a anuência da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE e dos gestores municipais (UNDIME). Pelo que li na imprensa os gestores estaduais não estiveram presentes, mas não tenho informações se discordam da proposta apresentada. E, pelo que sei, o ministério da Educação concordaria com o texto anunciado.

A ideia de baixar uma Medida provisória seria para superar a lentidão da Câmara dos Deputados e tornar imediatos os efeitos da proposta, evitando que o piso seja reajustado em janeiro de 2013 de forma obrigatória.

O que isto significa na prática para os salários dos professores?

Bem, para construir o valor definitivo de 2013 é necessário aguardar o encerramento do exercício de 2012, pois o valor do piso será (caso aprovado pela Câmara ou tornado lei por Medida Provisória) calculado pela variação do valor mínimo por aluno efetivamente realizado nos dois anos anteriores. Tal informação no que diz respeito a 2012 só será conhecida lá por março de 2013. Mas é possível tentar fazer alguma projeção provisória.

Permanecendo a legislação atual e não sendo revista a estimativa de valor mínimo por aluno atualmente vigente, a correção do valor do piso seria de 21,75%, ou seja, o piso passaria dos atuais R$ 1451,00 para R$ 1766,59.

A previsão de crescimento da arrecadação do FUNDEB publicada no início deste ano é de 14,4% e de inflação está girando em torno de 5,35%. Assim, caso seja baixada a Medida Provisória, a correção do piso será em maio e calculado tendo por base a metade deste valor (7,2%) somado ao índice inflacionário, ou seja, o piso sofreria uma correção de 12,56%. Seu valor passaria para R$ 1.633,25.

Amanhã voltarei a falar deste assunto.





domingo, 30 de setembro de 2012

Mentira tem pernas curtas


Semana passada eu adverti os leitores deste blog para o perigo de que pesquisas eleitorais fosse instrumento de tentativas de manipulação do desejo soberano dos eleitores.

Aquela advertência estava fundamentada em duas razões. A primeira, relatada no post, dizia respeito a enormes contradições entre pesquisas que haviam sido divulgadas no final de semana passado na cidade de Belém. Na verdade, no dia seguinte, com a divulgação da Pesquisa da Doxa, as contradições ficaram mais evidentes.

Mas havia uma segunda razão. Em eleições anteriores, inclusive na cidade de Belém, pesquisas haviam sido utilizadas para manipular os resultados, ou seja, para tentar induzir os resultados, influenciando os eleitores na reta final do pleito. Um destes fatos mais famosos foi a divulgação pelo Jornal O Liberal de pesquisa do Ibope, faltando também sete dias para o pleito, cujos números se mostraram inverídicos.

Na referida pesquisa, que reproduzo fac-símile da capa do jornal, a candidata Valéria aparecia com 18% e os candidatos Priante e Mário Cardoso apareciam empatados com 12%. Quando as urnas foram abertas e seus votos apurados a senhora Valéria, candidata preferida do jornal apareceu em quarto lugar com 13% e os dois que estávamos outros disputaram voto a voto o lugar no segundo turno, ficando Priante com 19% e Mário com 18%.

Agora (coincidência?) novamente foi publicada uma estranha pesquisa (desta vez da Vox Populi) que coloca o candidato Zenaldo em empate técnico com Edmilson, sendo que o primeiro estaria com 25% e o segundo com 27%. Um crescimento vertiginoso do candidato tucano e uma queda igualmente surpreendente do candidato do Psol. E joga os concorrentes diretos de Zenaldo para a vaga no segundo turno em percentuais irrisórios.

As discrepâncias entre essa pesquisa e as demais são acintosas. E o fato chamou a atenção de todo mundo que acompanha o tema. Sem entrar no mérito das possíveis motivações (correm muitos boatos sobre isso na cidade!), mas tal conduta é uma tentativa de reeditar a prática das eleições anteriores: um grupo local, usando de um instrumento de credibilidade aos olhos do eleitorado, tenta influenciar indevidamente o resultado final.

Talvez este esforço esconda duas verdades reveladas pelos outros institutos de pesquisa:

a)     Em todas as amostragens o candidato Edmilson mantém larga vantagem para o segundo colocado, situação que influencia o eleitorado positivamente na reta final da eleição e no seu posicionamento para o segundo turno; e

b)     A indefinição acerca de quem disputará o segundo turno, situação semelhante a que ocorreu em 2008, quando vários candidatos ainda tinham disputavam voto a voto esta classificação.

Comportamento como este é que vão criando uma cultura anti-pesquisa em nosso país. Ou seja, corremos o risco de jogar a criança junto com a água suja, justamente pelo uso abusivo e imoral de determinados institutos e seus clientes.

sábado, 22 de setembro de 2012

Pesquisas e suas contradições


Com a aproximação do dia das eleições um debate que volta à tona é sobre a seriedade das pesquisas eleitorais.

Em que pese à legislação ter se tornado mais rigorosa, a possibilidade de utilização indevida das pesquisas eleitorais, principalmente pela capacidade de influenciar nos resultados eleitorais.

Utilizo duas pesquisas publicadas pelos jornais de Belém no dia de hoje para exemplificar os riscos da má utilização deste importante instrumento de mensuração dos desejos da população. O Jornal O Liberal publicou pesquisa do Ibope (campo feito entre 19 e 21 de setembro) e o jornal O diário do Pará publicou pesquisa da Píese (mesmo período de entrevistas). As pesquisas foram feitas, portanto, no mesmo período e, por conseguinte, seus resultados deveriam ser bem parecidos.

Mas não são. E quais foram as principais diferenças?

1.       No Ibope Edmilson aparece com 38% e no Ipespe tem 41%.

2.       No Ibope o segundo colocado é Zenaldo com 20% e no Ipespe tem 12%.

3.       No Ibope o terceiro colocado é Priante com 16%, mas no Ipespe é apontado um empate técnico, pois ele aparece com 12%.

4.       Os eleitores indecisos no Ibope alcançam apenas 3% e no Ipespe são 8%.

Divergências acima da margem de erro podem indicar pelo menos dois problemas:

1.       Metodológico – ocorreram problemas na base amostral ou na checagem da mesma.

2.       Políticos – foram alterados os resultados de forma proposital para favorecer ou prejudicar determinado candidato.

Especialmente o resultado contraditório em relação ao segundo e terceiro lugares é claramente um problema político.

1.       Na pesquisa do Ibope a diferença entre o Edmilson e o segundo colocado é de 18 pontos percentuais e no Ipespe esta diferença é de 29 pontos. É uma diferença de 111 mil votos de diferença. Algo inaceitável.

2.       A diferença da votação do Zenaldo entre as duas pesquisas é de oito pontos percentuais. Isso significa uma diferença de 80 mil votos. É erro demasiado grande!

Em resumo, há algo muito suspeito acontecendo nas pesquisas que foram selecionadas para análise. Durante a semana analisarei outras pesquisas de outras cidades.

Pesquisa é muito importante, mas precisam ser transparentes e sérias em termos metodológicos. Não podemos vivenciar pesquisas adulteradas e, nas vésperas das eleições, após as adulterações cumprirem seu papel de influenciar no eleitorado, os institutos fazem os ajustes para não sofrerem desmoralizações.

 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O PNE e o regime de colaboração – 2ª parte


Voltando ao debate sobre o PNE e o regime de colaboração, afirmo que o Substitutivo aprovado pela Comissão Especial representou um esforço de melhoria do tema, mas ainda está muito longe de resolver o problema da efetividade do plano versus divisão clara de responsabilidades.

Foram inseridos artigos sobre o tema (destaque para os artigos 7, 11 e 13). O caput do artigo 7° estabelece:

Art. 7º A consecução das metas deste PNE e a implementação das estratégias deverão ser realizadas em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Como princípio o texto é bom, pois reafirma que a implementação de um plano nacional depende de um trabalho conjunto entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Porém, os parágrafos deste artigo não conseguem avançar na repartição de responsabilidades. Da mesma forma isto está totalmente ausente das estratégias do anexo da Lei.

Mais grave é que no artigo 13, quando trata da constituição do Sistema Nacional de Educação, instrumento jurídico que deverá materializar o regime de colaboração, tal definição é remetida para uma nova lei, com prazo de dois anos para sua instituição.

Art. 13. O poder público deverá instituir, em Lei específica, contados dois anos da publicação desta Lei, o Sistema Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetivação das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de Educação.

Então, resumidamente, a situação é a seguinte:

1.     No texto e no anexo da Lei do PNE o regime de colaboração aparece inúmeras vezes, mas sempre de forma genérica, sem precisar o que tal conceito representa na prática. Sempre se fala de “definir em regime de colaboração” alguma estratégia. Como exemplo disso é a estratégia 1.1, onde as metas de expansão das redes públicas de educação infantil devem ser definidas tendo como mote a colaboração.

2.     Após a aprovação do PNE (que ninguém arrisca fazer uma previsão, mas tendo grandes chances de ser no ano que vem), o poder público (leia-se governo federal) terá dois anos para instituir (normalmente este prazo acaba sendo o de envio ao Congresso Nacional e é cumprido na última noite) o Sistema. Assim, depois de dois anos de vigência do PNE começará tramitar no Congresso uma lei sobre o Sistema Nacional de Educação e aí se discutirá os termos da colaboração para a efetivação de metas e estratégias.

3.     Ou seja, o texto aprovado na Câmara manteve o regime de colaboração como um fantasma que ronda o PNE, mas que não se corporifica. Apenas marcou um prazo para que ele comece a se materializar. Se tal lei seguir o ritmo alucinante do PNE, no meio da vigência do próximo plano teremos a definição das responsabilidades de cada ente federado para cumpri-lo.

A sociedade civil apresentou, via inúmeros deputados, emendas tentando resolver esse problema em várias metas, mas estas emendas não foram incorporadas pelo relator e foram rejeitadas pela Comissão Especial.

Agora, com a tramitação no Senado, haverá uma nova chance de ser consertado este grave problema, que pode tornar o novo plano apenas uma carta de intenção e pode jogar responsabilidades desproporcionais nas costas de entes federados desprovidos de capacidade financeira para efetivar metas e estratégias de sua responsabilidade constitucional.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O PNE e o regime de colaboração – 1ª parte

É aguardada com ansiedade a chegada do Projeto de Lei n° 8035 de 2010 ao Senado Federal. Depois de quase dois anos de tramitação na Câmara dos Deputados o plano Nacional de Educação iniciará sua tramitação na Casa que deve preservar o chamado pacto federativo.


Vale recordar que o parágrafo único do artigo 23 da Carta Magna estabelece que “Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”. Ou seja, a Constituição delegou ao parlamento a edição de normas de cooperação entre os entes federados. Na área de educação o artigo 211 é mais explicito e afirma que “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino”.

A regulamentação deste regime de colaboração está atrasada em nosso país. Por isso, nada mais oportuno do que verificar como esta temática aparece no Substitutivo aprovado pela Comissão Especial da Câmara.

Escrevi em 2010 que o PL n° 8035/2010 não tratava adequadamente do regime de colaboração e que o mesmo aparecia da mesma forma que os fantasmas convivem com os seres viventes: sem existência material concreta.

Depois de meses de tramitação o problema continua sem solução adequada. É verdade que a pressão da sociedade civil, especialmente dos gestores educacionais e da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, conseguiu inserir um pouco mais de matéria na fantasmagórica presença do regime de colaboração, mas ainda insuficiente para torná-lo um elemento estruturante de um futuro Plano Nacional de Educação.

E por que o regime de colaboração precisa ser o elemento estruturante do PNE?

1°. O PNE possui vinte metas, sendo dezenove temáticas e uma meta síntese sobre financiamento. Cada meta estabelece obrigações a serem efetivadas pelos entes federados. Mesmo que a Constituição estabeleça responsabilidades de cada ente federado em termos de níveis e modalidades, isso não é suficiente para garantir que as metas (e suas respectivas estratégias) sejam cumpridas;

2°. Como o PNE não resolve a injusta repartição tributária nacional, o estabelecimento de metas somente acirra o conflito federativo latente no país. A maior parte das metas quantitativas é de responsabilidade municipal, por exemplo, justamente o ente federativo com menor capacidade de arrecadação de tributos e, por conseguinte, com menor possibilidade de ser efetivo no cumprimento dos dispositivos da nova lei; e

3° Dados relativos ao financiamento educacional mostram que a participação da União, ente federado que abocanha a maior parte dos tributos pagos pelos brasileiros, corresponde apenas a cerca de 20% do esforço financeiro na área educacional.

Portanto, cabe analisar em que termos aparece o regime de colaboração na nova lei, verificando se o formato contribui para regulamentar a cooperação entre os entes federados e, por este caminho, tornar mais exequível o conjunto de metas e estratégias.

Amanhã discutirei o Substitutivo tentando identificar estes aspectos.



sábado, 15 de setembro de 2012

Vinde a mim as criancinhas

Pelo meu calendário faltam apenas vinte e dois dias para a realização das eleições municipais e quero continuar debatendo a efetivação do direito à educação, especialmente nos municípios brasileiros.


Em ano eleitoral a educação se torna algo muito doce na boca dos candidatos. Todos querem colocar nossas crianças nas escolas, prometem qualidade de primeiro mundo e juram de pé junto que os professores serão valorizados.

Enquanto os candidatos estão em campanha tramita no Congresso Nacional (em ritmo de uma corrida de lesmas!) o novo Plano Nacional de Educação. Agora que vai para o Senado Federal e lá, como reza a democracia vigente, o projeto precisará ser analisado, emendado, relatado em pelo menos três comissões.

Um dos desafios deste novo PNE é a inclusão das crianças de zero a três anos em unidades de educação infantil. A meta do plano anterior era inserir 50% das crianças nesta faixa etária, mas como não foi conseguido, o atual plano prorroga esta meta por mais dez anos. Dados de 2010 mostram que tínhamos 23,4% de crianças matriculadas, sendo que 34% delas frequentavam escolas particulares, muitas subsidiadas pelo Poder Público e de funcionamento abaixo dos padrões definidos pelo Conselho Nacional de Educação.

Acontece que este percentual não é igualmente distribuído por todas as regiões, nem tampouco por todos os estados. Para não fugir da regra, a situação do meu querido Norte é uma das piores. Cito o exemplo de duas cidades da região para exemplificar os desafios dos novos prefeitos eleitos em sete de outubro de 2012.

Em Belém a Prefeitura assume para o SIOPE que vem diminuindo os investimentos em educação ano após ano. Em 2008 aplicava 26,48% e em 2011 aplicou 25,03%. Menos do que isso suas contas seriam rejeitadas.

A consequência desta política se reflete nos números da educação infantil. O atendimento em creche cobre apenas 5,4% das crianças de zero a três anos. Esses números são relativos a 2010 (análise do Censo do IBGE e do Censo Escolar do INEP). O novo prefeito terá imprimir um ritmo de crescimento que garanta que ao final de década seja decuplicado o atendimento nesta faixa etária para cumprir o novo PNE. Um desafio grandioso, pois o Brasil precisará apenas dobrar, o que já é monumental!

A constituição Federal estabelece que em 2016 todas as crianças a partir de quatro anos devem estar na escola. Dados também de 2010 mostram que 80,1% das crianças nesta faixa etária já estão estudando. Em Belém, no mesmo período, apenas 60,2% estavam matriculados. Mais desafio para o novo prefeito.

Em Macapá a situação é, infelizmente, semelhante. O atendimento em creche é de apenas 3,7% e na pré-escola é de 60,6%. E, como todos devem saber, o prefeito atual passa mais tempo tentando fugir de ordens de prisão emitidas pela Justiça Federal do que administrando a cidade.

Para que tais metas sejam cumpridas nestes dois importantes municípios considero que pelo menos três condições precisam acontecer de forma simultânea:

1. Eleição de prefeitos comprometidos com a inclusão de nossas crianças e que enxerguem a educação infantil como um direito.

2. Apoio dos governos estaduais e federal para que as prefeituras consigam construir e equipar novas unidades educacionais.

3. Mobilização da sociedade civil que garantam que a educação infantil tenha principalidade nas ações governamentais a partir de 1° de janeiro de 2013.

Para garantir a primeira das condições, como disse no início deste texto, faltam apenas vinte e dois dias.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma questão de prioridade

Faltando vinte e três dias para a realização das eleições municipais vale a pena debater como se efetiva o discurso de prioridade para a educação.


Apesar de a presidenta Dilma insistir em dizer que nosso país está à salvo da crise econômica mundial, as notícias que são divulgadas contradizem tal otimismo. Exemplo lapidar dessa contradição é a contínua revisão do percentual do Produto Interno Bruto, que o próprio governo estima em 2%, mas que muitos economistas consideram ainda uma previsão por demais inflada.

Nesta semana o governo federal anunciou mais um pacote de bondades para o empresariado nacional. Desta vez foi a ampliação da desoneração da folha de pagamento de vinte e cinco setores da economia. Esta bondade custará aos cofres públicos nada menos que 7,8 bilhões de reais. São medidas paliativas para tentar frear a desaceleração da produção no país.

Informei nesta semana também que está confirmada a queda do valor por aluno do FUNDEB para este ano. Ou seja, aqueles valores que foram publicados no início do ano e que foram objeto de intensas e difíceis negociações entre prefeitos (ou governadores) e os professores, não se concretizará. O dado oficial ainda precisa ser publicado na nova portaria (dizem que está na mesa do Ministro da Educação para assinatura), mas nos meus cálculos preliminares estimei em uma queda 6,2 bilhões de reais na destinação de recursos para a área educacional de estados e municípios.

A não arrecadação destes recursos agravará a já conflituosa relação dos servidores educacionais com os gestores municipais e estaduais. E terá consequências na qualidade da oferta educacional em nosso país. Significará dificuldades no pagamento do 13° salário, por exemplo, na complementação dos recursos federais destinados ao transporte escolar, na reforma e ampliação de escolas, dentre outras dificuldades.

A pergunta que devemos fazer é a seguinte: O governo Dilma será tão solícito com os gestores municipais e estaduais como tem sido com o empresariado nacional? A sobrevivência dos empregos e dos salários dos professores da educação básica será objeto de atenção governamental ou salvação só merecem os empresários em dificuldade?



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Confirmada queda no valor aluno do FUNDEB 2012

Este espaço tem sido usado para fazer análises de políticas públicas e alertar os educadores para questões relevantes da área. Nos dias 21 e 22 de agosto publiquei pequeno estudo acerca da execução financeira do FUNDEB, onde mostrava que a possibilidade de realização dos valores por aluno constantes da Portaria Interministerial vigente para 2012 era pequena.


Naquela oportunidade afirmei:

“Analisando o que foi realmente executado em 2011 por estados, distrito federal e municípios e a previsão feita pela portaria citada acima, era esperado que a receita sofresse uma variação de 15,47%. Porém, os dados coletados só permitem apontar para um crescimento de 9,2%. Assim, podemos prever uma queda de 5,6 bilhões dos valores publicados pelo governo. Somando este valor a queda proporcional da complementação da União, chegamos a uma redução das estimativas de 6,2 bilhões a menos”.

Pois bem, tenho notícias que está na mesa do Ministro Mercadante o texto de uma portaria anunciando a queda de arrecadação do fundo e, consequente, redução do valor por aluno, inclusive do valor mínimo por aluno. Nos bastidores se fala de redução de 15% deste valor.

Vamos aguardar a publicação da referida portaria, o que obviamente pode ser providencialmente adiado devido o período eleitoral. Mas, seja agora ou após o dia 7 de outubro, a redução implicará em aumento das dificuldades de estados e municípios na gestão de suas respectivas redes educacionais.

O principal rebatimento desta redução será, com certeza, na possibilidade dos entes federados cumprirem o piso salarial nacional do magistério e seus planos de carreira.

A pergunta que fica é a seguinte: com a crise o governo federal tem sido rápido em socorrer vários segmentos empresariais, reduzindo tributos federais, emprestando recursos públicos via BNDES ou mesmo repassando serviços estatais para segmentos privados (agora isso não se chama mais privatizar, mas eu esqueci qual o novo vocabulário no momento!). Será que o governo agirá da mesma forma com estados e municípios? Será editada alguma medida provisória para evitar o caso que se instalará ao final do exercício financeiro? Serão tomadas medidas que evitem que prefeitos não reeleitos joguem esta crise nas costas de seus sucessores?







segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Governo sofre segunda derrota no PNE

No dia 26 de junho passado, o governo federal havia sofrido importante derrota na Comissão Especial que analisa o novo Plano Nacional de Educação. A Comissão aprovou 10% do PIB pra educação, reivindicação principal da sociedade civil.


A reação de insatisfação do Palácio do Planalto foi imediata: editoriais direcionados nos principais jornais de circulação nacional e coleta de assinaturas suficientes para remeter o texto para o plenário da Câmara dos Deputados. A Casa Civil da Presidência se empenhou diretamente nesta operação.

Pois bem, uma intensa mobilização social da sociedade civil organizada, especialmente coordenada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, conseguiu assinaturas suficientes para derrubar o recurso 162/2012, que prendia o Projeto de Lei 8035/2010 (novo PNE – Plano Nacional de Educação), no plenário da Câmara dos Deputados.

A Campanha coordenou uma estratégia que combinou pressão social, principalmente por via das redes sociais, com trabalho de acirramento das contradições no bloco do governo. O resultado mostrou claramente que a questão educacional começou a se enraizar no imaginário da população brasileira, que cobra que o tema saia dos palanques e se concretize em medidas efetivas de melhoria da qualidade e do acesso educacional.

O Senado Federal será agora palco da próxima batalha. O texto que vem da Câmara, depois de quase dois anos de tramitação, incorporou alguns avanços, como é o caso do percentual de 10% do PIB pra educação, mas precisa de profundas melhorias. Destaco a necessidade de deixar clara a parcela de responsabilidade de cada ente federado pelo cumprimento das metas como uma das principais pendências a serem corrigidas.

Certamente a sociedade civil contará naquela Casa com aliados e precisará aumentar ainda mais a mobilização para impedir retrocessos e alargar as vitórias conquistadas.

Espero que o governo federal aprenda alguma coisa com duas derrotas seguidas.