sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Efeito colateral

Já havia afirmado neste espaço que as mudanças introduzidas pelo MEC no ENEM provocaram uma alteração substancial do seu formato original. De uma tentativa sem sucesso de certificação do ensino médio, aos poucos foi se transformando em porta de entrada de faculdades particulares no governo FHC. Ao vincular o ENEM ao processo seletivo do PRO-UNI o governo Lula acelerou este processo.

O novo ENEM completou o processo e o transformou em vestibular unificado nacional. Os problemas ocorridos ano passado, quando vazou a prova, são apenas manifestações desse novo caráter. Antes, mesmo que utilizado por algumas faculdades particulares, seu valor comercial era pequeno, não valendo a pena investir recursos na busca de suas provas por meios ilícitos. Hoje, com a sua utilização pela maioria das universidades federais, seu valor de mercado no mundo do crime não pára de crescer.
Recente reportagem do Estado de São Paulo, assinada pela jornalista Mariana Mandelli, lança luz sobre outro efeito colateral importante: o impacto do novo ENEM no mundo empresarial de cursinhos e livros.

Textualmente podemos ler:

“A transformação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em vestibular unificado para as universidades federais começa a se refletir no mercado educacional e na cultura dos vestibulares. O surgimento de cursinhos preparatórios e materiais didáticos específicos é a maior prova disso. Em algumas escolas, a procura aumentou, de 2008 para agora, cerca de 50%”.

E a jornalista entrevistou inúmeros diretores de cursinhos. Destaco o depoimento do Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil, que oferece cursinhos para o Enem. Ele afirmou que "muitos cursinhos afirmam que o vestibular é mais difícil. Em parte, é. Mas quem quer fazer o Enem e está num pré-vestibular pode perder tempo com conteúdos que não são cobrados".

O mais interessante é o poder que estas instituições possuem de transformar qualquer que seja a proposta curricular em apostilas de fácil compreensão. Os cursos para o Enem oferecem, basicamente, exercícios extraídos das provas e resumos teóricos sobre temas da atualidade. Entre a enxurrada de livros temáticos que surgiram no mercado, é possível encontrar até palavras-cruzadas. A Coquetel lançou neste ano uma série de revistas com temas como aquecimento global e genética.

E, por fim, Fernanda Almeida, da Ético Sistema de Ensino, mata a charada: "O exame ganhou ainda mais importância com as mudanças. Cada vez mais instituições aderem. O Enem vai se transformar num vestibular de natureza nacional".

Este é, sem sombra de dúvida, um efeito colateral esperado.

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