sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Na Medida

A edição do Boletim Na Medida, instrumento do INEP para divulgar reflexões técnicas feitas pelo Instituto, não tem tido a repercussão que merece. Talvez por que o peso da realização dos exames, especialmente o ENEM (agora transformado numa espécie de vestibular unificado) não permita.

Espero que a mudança de perfil da direção do INEP não enterre esta brilhante iniciativa da gestão anterior.

Divulgo resumidamente um dos artigos da edição nº 04, que foi disponibilizada em dezembro do ano passado. O titulo do artigo é “Ensino infantil: perfil das famílias com crianças de zero a cinco anos que freqüentam a escola”.

Os técnicos do INEP se debruçaram sobre os dados da PNAD 2007 e, por meio de “uma análise econométrica utilizando a metodologia de regressão logit”, buscaram precisar qual o peso de algumas variáveis na presença de crianças na educação infantil.

As principais conclusões:

1ª. O tamanho da família parece não ser um determinante da opção de colocar ou não a criança na escola, ou seja, a probabilidade de a criança freqüentar ou não a escola não guarda relação com o tamanho da família.

2ª. Os resultados obtidos mostram que a presença de avós do domicílio também pode explicar, em parte, o fato de as crianças de zero a cinco anos freqüentarem ou não a escola. No entanto, o impacto de tal característica não é muito grande, o que indica que outros fatores contribuem para essa decisão.

3ª. Famílias com maior grau de instrução tendem a colocar seus filhos mais cedo na escola. O fato de um membro da família que resida no mesmo domicílio ter nível superior aumenta em aproximadamente seis pontos percentuais (pp) as chances de uma criança de zero a cinco anos freqüentar escola, ao comparar com uma família cuja escolaridade máxima seja o nível fundamental completo.

4ª. O fato de a criança freqüentar a escola está fortemente correlacionado com a renda da família. A diferença entre as probabilidades chega a 20 pp, ao considerar as famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo e as com renda entre três e cinco salários. De fato, tal correlação pode estar indicando um problema de acesso à escola. Em especial na faixa de zero a três anos, é grande a participação do setor privado na provisão da educação infantil, o que torna a "renda da família" um determinante do fato de a criança freqüentar ou não escola.

Um comentário:

Anônimo disse...

Luiz Respeito os estudos do INEP, mas os acho um pouco quantitativos demais. E até imprecisos na terminologia (por exemplo, falar em "ensino infantil" depois que lutamos tanto por educação básica e "educação infantil", até me doi no ouvido).
O que me parece ser necessário é estudar as causas da pouca oferta de creches pelos Municípios e, mais ainda, estudar os processos pedagógicos que rolam na pré-escola, período do início formal da alfabetização, tanto do código letrado como do informatizado. Estive recentemente na Venezuela. Lá existe pouca preocupação pública com as creches (guarderías). Em compensação, a pré-escola, dos três aos cinco anos, está cobrindo mais de 80% da população infantil e em todas as classes se instituiu o regime de dois professores por turma, entre 20 e 30 alunos. Já no Senegal, ao contrário de todos os outros países, 40% dos professores de creches são homens. Aqui no Brasil, 98% são mulheres. Essa é uma matéria para o INEP estudar também, creio eu. João Monlevade