quarta-feira, 18 de março de 2009

Anotações sobre a pesquisa do Ibope

Debrucei-me sobre os números da pesquisa que o Instituto Ibope fez sobre a percepção dos brasileiros em relação a situação da educação pública no país. A pesquisa foi encomendada pelo movimento Todos pela Educação.

Inicio com uma observação que julgo importante. Ao entrevistar o universo dos brasileiros, a pesquisa ouviu uma maioria que usufrui do serviço, ou seja, possui seus filhos estudando em escolas públicas e também ouviu parte da classe média e rica que não convive com a escola pública até que seus filhos ingressem numa universidade pública, mas que forma sua opinião pelos noticiários da mídia.

Essa observação é comprovada pelos números da pesquisa.

Perguntados como classificam a educação pública no Brasil, 41% dos entrevistados consideram a educação ótima e boa e 24% a consideram ruim ou péssima, ou seja, um saldo positivo de 17 pontos percentuais. No entanto esta percepção positiva desaba nas cidades com mais de 100 mil habitantes (33% positiva contra 29% negativa, com saldo de apenas 4 pontos). Nas cidades pequenas a vantagem se amplia para 44 pontos.

A mesma pergunta tem respostas bem distintas a depender da renda dos entrevistados. Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos apenas 17% consideram a situação da educação positiva e 38% consideram de forma negativa, ou seja, o saldo é negativo em 21 pontos.

Interessante é que os que ganham até 1 salário mínimo a situação se inverte, pois 55% avaliam positivamente a apenas 15% avaliam negativamente, ou seja, um saldo positivo de 40 pontos.

O Ibope perguntou também se a qualidade estava melhorando, piorando ou estava igual. A maioria dos entrevistados (47%) considera que está melhorando lentamente, apenas 13% concordam com o governo e consideram que a qualidade melhora em ritmo acelerado, 23% acham que está tudo igual e 15% consideram que a qualidade está piorando.

Novamente há alguma disparidade na avaliação das grandes cidades, onde 20% acham que está piorando e apenas 9% acham que o ritmo está acelerado. A disparidade, entretanto, é grande a depender da renda dos brasileiros. A maioria dos que ganham mais de 10 salário considera que está piorando (34%), igual (32%) ou no máximo melhorando lentamente (32%), portanto um balanço bem negativo da qualidade. Os mais pobres consideram que o ritmo é lento da melhora (47%), mas 19% deles acham que o ritmo está acelerado.

Perguntados o que mais motiva os professores no exercício da profissão os entrevistados foram bastante homogêneos ao afirmar que os salários são essenciais para a motivação (46%). Em segundo lugar veio a percepção de que os alunos estão aprendendo com 23%. Encontramos distorções em relação a dois quesitos quando analisados os dados pela renda. Os mais ricos valorizam mais a boa infra-estrutura das escolas (15% quando o resultado geral foi de 7%). Os mais pobres valorizam mais o quesito da satisfação com o aprendizado dos alunos (20% contra 23% do geral).

Perguntados sobre quais os principais problemas da educação os entrevistados classificaram os mesmos na seguinte ordem: Professores desmotivados e mal pagos (19%), falta se segurança (17%), poucas escolas (15%), falta de professores (12%), professores despreparados (11%) e em sexto a baixa qualidade do ensino com 9%.

Esta ordem vai valorada de forma diferente a depender dos estratos sociais analisados, mesmo que o primeiro lugar não tenha sido alterado. Nos mais ricos há um equilíbrio maior entre os quesitos, sendo que a baixa qualidade aparece empatada em terceiro com os professores despreparados. Nos mais pobres é o único estrato em que a falta de segurança ultrapassa os baixos salários dos professores.

Na soma de três respostas sobre a mesma questão o resultado é interessante. Os baixos salários e a segurança aparecem bem destacados (40% e 50% respectivamente). Num outro patamar aparecem empatados professores despreparados e a baixa qualidade (32% e 33% respectivamente).

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