segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A pobreza é predominantemente negra


O Comunicado nº 12 da Presidência do IPEA, lançado esta semana versando sobre os resultados da PNAD 2007 afirma que a “desigualdade racial, como medida pela razão de rendas entre brancos e negros, vem caindo” em nosso país. Até 2001 a renda dos brancos era de 2,4 vezes maior do que a dos negros. De lá para cá começou a cair e hoje está em 2,06 vezes. E calcula que se “o ritmo continuar o mesmo, haverá igualdade racial de renda domiciliar per capita apenas em 2029”.
É verdade que a renda é um indicador importante para medir o grau de desigualdade social em um país. Aliás, o Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo. Mas também é verdade que não podemos utilizar como único indicador para a redução da desigualdade racial a melhoria da renda dos negros em relação aos brancos.
O próprio estudo do IPEA problematiza esta melhoria ao buscar explicações. Como houve uma melhora (muito menor do que poderia ter sido alcançado) da distribuição da renda no último período e o coeficiente de Gini (http://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_Gini) depois de longo período de estabilidade também começou a cair, os pesquisadores do IPEA se perguntam se a redução “de uma desigualdade é mera conseqüência da outra”? “Em outras palavras, sendo negros sobrerepresentados na cauda inferior da distribuição de renda é possível que a redução da razão de rendas não seja conseqüência de uma redução nas práticas discriminatórias e sim do fato de negros serem maioria entre os beneficiários do Programa Bolsa Família, dos benefícios previdenciários indexados ao salário mínimo e do Benefício de Prestação Continuada e dos outros mecanismos de redução da desigualdade geral”.
O documento consegue apurar que a melhoria da distribuição da renda foi responsável por 72% da redução da desigualdade na renda. Ou seja, houve alguma mobilidade social, mas na ausência de políticas de ação afirmativa de grande envergadura, a principal responsável pela redução foi a melhora generalizada da desigualdade na sociedade brasileira.
Em resumo: a pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca em nosso país. E isso não mudou, ou pelo menos está mudando muito lentamente.

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